Prog

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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Vox Dei

 Vox Dei iniciou por volta de 1967 no subúrbio de Quilmes, Buenos Aires, como uma banda típica de rock e blues com traços do psicodelismo vigente na época, cantando em inglês, logo passou a cantar apenas em espanhol e após alguns singles gravou um disco com o sugestivo nome de "Caliente", formando uma pequena legião de fiéis seguidores mas sem maior repercussão.

O ano era 1970, os argentinos do Vox Dei experimentavam, ainda que de forma bastante tímida com uma obra conceitual contendo elementos de orquestra e música clássica neste que seria o ápice na carreira da banda, com ênfase no hard rock, psicodelismo, influências de The Who, acrescendo a isso um pouco do modelo que o Deep Purple em faixas como Hallelujah e do Concerto for Group and Orchestra. La Biblia tem traços do prog italiano, mas não acredito que tivesse qualquer relação com a obra-prima que o também argentino Luis Bacalov idealizara na Itália, na mesma época, com o 'Concerto Grosso Per I New Trolls' mesclando rock e música barroca.

A intenção do Vox Dei e o formato nem de longe se assemelham a um concerto, a orquestração se faz presente em poucas músicas, mas serve para ressaltar uma obra inovadora e arrojada principalmente para o que se poderia esperar do rock latino-americano no início dos anos 70, um dos protagonistas a formar os alicerces do rock e progressivo argentino.

La Biblia, como o nome sugere, é um disco conceitual que narra com motivos próprios algumas passagens interessantes da Obra Sacra, sendo que a poesia contida nas letras de Ricardo Soulé é muito bela e inspirada, mas um tema que causaria algum desconforto em uma nação predominantemente católica que respiraria ares de ditadura e repressão (1976-1983). Mesmo assim, teve as letras revisadas pelo bispado argentino, que acabou inclusive recomendado o disco.

La Biblia teve grande êxito e foi apreciado por público e crítica que o saudaram com entusiasmo e mesmo grandiloquência em algumas publicações. Destaque para a introdução da orquestra com fagote, violinos, percussão, além das faixas Genesis, Moises (que abre com um belíssimo coro, vozes sobrepostas em uníssono para depois atingir um clima épico), Libros Sapienciales (nos moldes do The Who), a ênfase na orquestração em Cristo (Nacimiento) e a emotiva Cristo (Muerte y Resurrección), além da 'hendrixiana' Apocalipsis.

Logo após La Biblia, Godoy partiu para carreira solo. Vox Dei se manteve forte no cenário argentino até o ano de 1976 gravando vários discos nesse período, teve sobrevida até o ano de 1981, mudanças de formação e conflitos judiciais em torno do nome acabaram por enfraquecer a música e a vitalidade da banda que resultaria em várias pausas, reuniões e separações, deixando-a ativa ainda que no ostracismo, ficando mais conhecida apenas como a 'lendária' banda que gravou La Biblia.

La Biblia teve ainda uma produção em 1974 de Billy Bond com participação da Ensemble Musical de Buenos Aires e de músicos ilustres como Charly Garcia mas sem a participação de integrantes do Vox Dei, além de uma gravação ao vivo de 1986 (La Biblia según Vox Dei) e em 1998 foi recentemente regravada pelos trio remanescente de Soulé, Quiroga e Basoalto com participação de Andrés Calamaro, Fito Páez e Alejandro Lerner.

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