Uma das mais importantes bandas da história do rock, e possivelmente a mais importante do rock progressivo. Muita gente conhece o Genesis apenas através de alguns discos mais recentes, como Invisible Touch, mas a história do grupo é vasta e intensa. Dentro de um gênero como o rock progressivo, caracterizado pela complexidade das músicas, e (talvez por isso) pela diversidade de opiniões do público, o Genesis é uma das poucas unanimidades entre os admiradores do gênero.
O Genesis surgiu em meados de 1967, em uma escola inglesa chamada Charterhouse. Haviam 2 bandas formadas por estudantes desta escola tocando na época : The Anon e Garden Wall. O Anon era formado por Richard Macphail (vocais), Anthony Phllips (guitarra solo), Michael Rutherford (guitarra base), Rivers Job (baixo) e Rob Tyrrell (bateria). Seu repertório consistia em covers de Beatles e Rolling Stones, além de algumas raras composições inéditas. O Garden Wall era formado por Tony Banks (teclados), Peter Gabriel (vocais) e Chris Stewart (bateria).
A semente embrionária do que seria o Genesis foi plantada no concerto do fim deste ano, quando o Garden Wall fez seu último show, contando com Job no baixo e Phillips na guitarra. Após isto, Phillips e Rutherford decidiram continuar tocando juntos, e chamaram Tony Banks para tocar com eles.
A idéia inicial é que o vocalista seria Phillips. Porém, após se juntar a ele e a Rutherford, Banks os convenceu a convocar Gabriel para vocalista, alegando que este tinha uma voz melhor. O tempo mostrou que Banks tinha inteira razão.
Os quatro, então, se juntaram, e gravaram a sua primeira fita demo. Há controvérsias a respeito da formação exata do grupo nesta época : fontes afirmam que Peter Gabriel, além de vocalista, também era o baterista do grupo nestes primeiros dias; enquanto há quem diga que Chris Stewart é quem tocava bateria.
O que se sabe é que a 1ª fita demo chegou às mãos de Johnattan King, produtor ligado à gravadora Decca. King também tinha sido aluno de Charterhouse, e tinha amigos em comum com os músicos. A fita continha as seguintes músicas : That's Me, Listen on 5, Don't Wash Your Back, Try a Little Sadness, She's Beautiful, e Patricia. A fita impressionou Johnattan, que pediu aos músicos uma outra demo, mais bem trabalhada.
Nesta 2ª fita, gravada com mais recursos, eles regravaram She's Beautiful e Try a Little Sadness, e acrescentaram Where the Sour Turns to Sweet e The Image Blown Out. Posteriormente, uma 3ª demo seria gravada, contendo, entre outras músicas, The Silent Sun, uma composição bem no estilo dos Bee Gees da época, banda que King admirava. Com isto, os músicos conseguiram um contrato, e em janeiro e abril de 68 foram lançados seus dois primeiros compactos : The Silent Sun/That's Me, e A Winter's Tale/One Eyed Hound. Estes compactos repercutiram muito pouco na época, apesar de sua sonoridade interessante (algo como o rock dos anos 60, na linha Bee Gees, Herman's Hermits).
Um detalhe : nestes compactos, estava com eles Chris Stewart na bateria. Se isso praticamente descarta a possibilidade de Peter Gabriel ter tocado o instrumento no início, outro dado surgiria mais de 30 anos depois para reacender a dúvida : uma das gravações da 1ª fita demo do grupo, Patricia, reapareceu na caixa Genesis Archive 1967/1975, lançada recentemente. Os registros da época apontam que só haviam 4 pessoas na gravação : Gabriel, Banks, Phillips e Rutherford. Pois bem, na gravação de Patricia, percebe-se claramente a presença de uma bateria. Quem a teria tocado ?
Dúvidas a parte, o grupo segue, já com um novo baterista, John Silver, e grava o seu primeiro LP, que seria intitulado From Genesis to Revelation, com King na mesa de produção. Na época em que as gravações foram concluídas, um fato por demais curioso aconteceu : a gravadora Decca descobriu que havia na América um outro grupo chamado Genesis, e começou a pressionar King para mudar o nome do grupo.
O disco acabou sendo lançado sem nome definido para a banda. Um dos poucos casos na história da música em que um disco tinha nome, mas o artista não. Na capa aparecia apenas "From Genesis to Revelation". E no encarte, uma nota explicava a confusa situação :
"Agora somos um grupo sem nome, mas temos um disco e queremos distribuí-los para vocês, com ou sem nome".
A capa (fundo marrom com apenas o nome do disco em cor mais clara) e a sonoridade do disco (letras tão reflexivas que beiravam a temática bíblica, e o som coberto por uma orquestra que foi acrescentada à última hora, e que acabou ofuscando os instrumentos do próprio grupo), fizeram com que grande parte dos lojistas o colocasse na seção de discos religiosos.
Segundo registros da época, o disco vendeu pouco mais de 600 cópias, um fracasso total, que fez com que John Silver deixasse o grupo, e que eles rompessem com Jonattan King. A orquestra que foi acrescentada nas gravações, decepcionou completamente os músicos, que praticamente não reconheceram no disco as músicas que eles próprios haviam gravado. O grupo parecia não ter futuro, e os pais dos músicos os pressionavam para continuar os estudos. Tudo caminhava para a dissolvição da banda.
Pois quando menos se esperava, começou a grande virada. Durante o ano de 1969 e o início de 1970 , o grupo recrutou um novo baterista, John Mayhew; os músicos abandonaram os estudos, e passaram meses reunidos, apenas tocando juntos e compondo. Neste mesmo período, Richard MacPhail, antigo amigo e ex-vocalista do Anon, reapareceu e assumiu o papel de empresário do grupo.
Aos poucos, alguns shows em pequenos clubes foram sendo realizados. Neles, o público pode começar a conhecer a nova face do Genesis. Os músicos se projetavam mais, e já executavam vários instrumentos. Peter Gabriel começou a tocar flauta, acordeon e percussões. Phillips e Rutheford tocavam vários instrumentos de corda, entre os quais o dulcimer, de onde Phillips tirava melodias maravilhosas.
As novas composições mostravam um amadurecimento assustador : temas longos, melodiosos, e repletos de belas harmonias. Era o rock progressivo, que surgiu no final dos anos 60, e rapidamente tomava conta da Inglaterra. O Genesis começava a se mostrar como um exemplo perfeito deste novo estilo, e acabou despertando o interesse de uma nova e grande gravadora que surgia : The Famous Charisma Label.
Especializada em rock progressivo, a gravadora crescia rapidamente, e já tinha em seu cast grupos como Van Der Graaf Generator. Pessoas ligadas à Charisma assistiram alguns dos shows do Genesis, e se encantaram. Contrato assinado, os músicos entram em estúdio e gravam o seu 2º disco : Trespass.
O disco é bastante elogiado pela crítica, e atrai a atenção do público para o grupo. Muitos consideram este o verdadeiro começo da banda, por se tratar do 1º disco em que aparece o som que os consagrou : temas longos progressivos, com vários climas e solos de teclados, guitarras e flautas. Belos vocais de Gabriel. Tudo combinava com perfeição. Havia uma magia por trás das canções.
A banda começava a crescer, e nessa época, Phillips e Mayhew saem. A saída de Mayhew não foi muito sentida, mas a de Phillips causou preocupação, pois este era uma das figuras mais importantes do grupo.
No lugar de Phillips, entrou Steve Hacket; e no de Mayhew, Phill Collins. Ambas as escolhas foram mais que satisfatórias, e a partir daí a banda continuou a crescer, e entraria naquela que é considerada a melhor fase de sua carreira.
Após a bem sucedida turnê de Trespass, o grupo volta ao estúdio em 1971, e grava Nursery Cryme. O álbum é aclamado por público e crítica, graças à magia de seus temas. Steve Hacket se mostra um mestre na guitarra, e Phil Collins, um monstro na bateria, além de um perfeito backing vocal, devido à semelhança de sua voz com a de Gabriel.
O disco tinha clássicos como The Return of the Giant Hogweed, The Fountain of Salmacis, e a magistral Musical Box, considerada por muitos a melhor música de toda a carreira da banda.
O som do Genesis já começava a conquistar adeptos fora da Grã-Bretanha, e chegar à América. Em 1972, eles lançam um novo álbum : Foxtrot, e mais ou menos nesta época, Peter Gabriel lança mão de um recurso que os tiraria de vez do anonimato. Ele passa a representar no palco os personagens das canções do grupo, usando fantasias e máscaras.
Os shows passaram a contar então com as representações teatrais, que combinavam com as músicas e criavam uma atmosfera única. A partir daí, o Genesis se transformou quase numa religião, e passou a ser idolatrado por seu público, que aumentava cada vez mais.
No início de 73, sai o 1º disco ao vivo, o excelente Genesis Live, que inclui clássicos como Watcher of the Skies e Musical Box, em belas interpretações.
Ainda neste ano, lançam Selling England by the Pound, um dos melhores álbuns da carreira da banda, com músicas como Dancing With the Moonlit Knight, Firth to Fifth, Cinema Show, e I Know What I Like, que se tornou o maior sucesso do grupo na época.
A popularidade do Genesis só crescia, eles lideravam o movimento progressivo, que estava no seu auge, ao lado de King Crimson, Yes, Pink Floyd e outras grandes bandas da época. Em 74, seria lançado The Lamb Lies Down on Broadway, um álbum duplo conceitual, contando uma história surreal, a saga do portoriquenho Rael. Outro clássico absoluto.
A turnê de divulgação foi gigantesca, e nela todo o disco era tocado na íntegra, sempre acompanhado das representações de Gabriel. O sucesso, mais uma vez, foi absoluto, mas dentro da banda as coisas não corriam muito bem. Comenta-se que Gabriel queria realizar trabalhos diferentes do que o Genesis vinha fazendo. E os seus companheiros, por outro lado, já se mostravam descontentes com o formato dos shows, que concentrava todas as atenções em torno de Gabriel. Além disso, achavam que aquilo já estava ficando cansativo.
Em meio às divergências, explodiu a bomba : Peter Gabriel estava deixando o Genesis. O público entrou em pânico. Como poderia acontecer uma coisa assim ? O que seria do Genesis sem sua principal figura ? O que iria acontecer ?
O fato é que, em meados de 75, Peter Gabriel saiu em definitivo. E pouco tempo depois, o guitarrista Steve Hacket lançaria um disco solo, muito elogiado, que aumentaram os temores de uma possível separação do grupo.
Mas eles seguiriam em frente. No início, sentiram uma enorme insegurança. Mas aos poucos, foram assimilando a perda de seu líder, e aproveitando a chance para mostrar um pouco mais de cada um, pois o último disco foi concebido em sua maioria por Peter.
Inicialmente, procuraram outro vocalista para substituir Peter Gabriel. O novo disco já estava praticamente pronto, e Phil Collins faria o vocal principal em algumas músicas (entre elas Squonk), enquanto as demais ficariam a cargo do novo cantor. Mas eles acabaram não chegando a ninguém. Phil cantava as músicas melhor do que todos os candidatos.
Então foi decidido que Phil Collins mesmo passaria a ser o vocalista. Nos shows, a banda teria um baterista contratado, enquanto que no estúdio Phil faria os dois papéis.
Os temores que restavam em relação ao grupo se foram com o lançamento do novo disco. A Trick of the Tail, lançado no início de 76, agradou em cheio os fãs, pois as músicas continuavam muito boas, seguindo a linha progressiva da banda (com exceção talvez da faixa título). E Phil comprovou sua eficiência, com vocais fortes e bonitos. Além disso, sua voz é semelhante à de Peter, assim o público respirou aliviado.
Nos primeiros shows, o baterista era nada mais nada menos do que Bill Bruford, ex-Yes e ex-King Crimson, considerado um dos melhores bateristas do mundo na época. Mais tarde ele seria substituído por Chester Thompson.
Ainda em 76, foi lançado um dos melhores discos do Genesis : Wind and Wuthering. Um show de belas melodias, onde se destacam mais ainda os teclados de Tony Banks, além da competência habitual do grupo. Um disco indispensável para os fãs.
E em 77, viria a público o duplo ao vivo Second's Out, com a turnê de 76, que entre outros destaques, tinha o clássico Supper's Ready, cantado com maestria por Phil Collins, que conquistou aí a confiança dos fãs de vez. Porém este disco acabou sendo o último com Steve Hacket, que deixaria o grupo logo depois.
A partir daí, eles decidiram continuar como um trio. Mike Rutheford ficou encarregado das guitarras e baixo, e a partir daí o som do grupo mudaria bastante. A saída de Steve foi a gota d'água para a mudança do estilo, e a falta que fez foi evidente. Desde então, o Genesis deixou o progressivo de lado, dando lugar a um som mais simples, mais pop.
Em 1978, sairia o novo álbum, ...And Then There Were Three. As músicas, em sua maioria, eram mais simples, embora ainda houvesse um resto do clima progressivo em músicas como Burning Rope. Agora, a instrumental era muito mais concentrada nos teclados de Banks, pois Mike, como guitarrista, era bastante limitado. Este álbum trouxe o sucesso Follow You Follow Me.
Os shows ainda tinham belos momentos. Um guitarrista convidado, Daryl Stuemer, passou a excursionar com o grupo, e se mostrou excelente na função, executando com inegável competência as intervenções de Steve Hacket.
A partir dos anos 80, Phil Collins praticamente tomou para si as rédeas do grupo, e o som passou definitivamente para o formato pop. Ele começou nesta época uma carreira solo das mais bem sucedidas, e hoje em dia chega a ser mais conhecido do que o próprio Genesis. Sua carreira solo caminhava em paralelo com o Genesis, e a sonoridade de ambos era bem semelhante.
Os discos que sairam a partir de 1980, se por um lado abandonaram o som dos anos 70, por outro encontraram uma fórmula que os lançou às rádios, e aumentou bastante as vendas. O Genesis seguiu em frente, e conquistou um novo público. O LP Duke, de 1980, trouxe o sucesso Misundertanding, e surpreendeu, entre outras coisas, pelo grande número de músicas que tinha : 12, um número bem maior do que nos discos anteriores, que possuíam por volta de 6 músicas (dada a longa duração delas, e seus arranjos complexos).
Seguiram até 86, lançando Abacab, Genesis, 3 Sides Live (o 3º ao vivo do grupo) e Invisible Touch. Este último se tornou o mais famoso álbum do grupo, coincidentemente lançado na mesma época em que seu ex-vocalista Peter Gabriel lançou seu disco solo de maior sucesso, So. Invisible Touch foi sucesso absoluto, um dos clips (Land of Confusion) ganhou até um Grammy, e além dela, Into Deep, Tonight Tonight Tonight, Throwing it All Away, e principalmente a faixa título se tornaram algumas das músicas mais famosas do grupo.
Foi o sucesso deste disco que fez muita gente classificar o Genesis como uma banda pop, e até hoje é assim que muita gente pensa, pois a fase antiga do grupo não teve na mídia a mesma repercussão, o mesmo sucesso dos trabalhos mais recentes.
Depois deste disco, o grupo parou por vários anos. Voltaria só nos anos 90, lançando We Can´t Dance, que agradou não só os fãs mais recentes, como também obteve elogios de alguns fãs antigos, devido a composições como Fading Lights, que lembrava os tempos progressivos do grupo. Uma imensa turnê se seguiu, e dela surgiram 2 discos ao vivo : The Way We Walk 1 & 2. Um trazia as faixas mais pop, e o outro, os trabalhos mais progressivos, as faixas mais longas.
A longa parada até o lançamento deste disco mostrou claramente o desgaste do grupo, e o sucesso de Phil Collins como artista solo o fez relegar a banda a 2º plano. Em 96, o inevitável aconteceu : Phil deixou definitivamente a banda.
Tony e Mike seguiram em frente, e recrutaram um novo vocalista : o escocês Ray Wilson. Um novo disco foi lançado, chamado Calling All Stations. Este disco agradou a muitos fãs antigos, pois ensaiava um retorno ao som progressivo dos anos 70, deixando de lado a temática excessivamente pop dos últimos trabalhos. Só que o disco carecia de uma melhor produção, e o público não aceitou bem a saída de Phil Collins. O disco não vendeu o que se esperava, principalmente nos Estados Unidos.
Após uma rápida turnê, Ray Wilson começou a trabalhar em seu disco solo. E logo a seguir, um novo projeto começou a mexer com a cabeça de todos, do público aos próprios membros do Genesis: uma caixa de 4 CDs, cobrindo a 1ª fase da banda, estava sendo preparada. A caixa iria incluir material antigo, faixas inéditas, e diversas gravações ao vivo, entre elas um concerto onde o álbum The Lamb Lies Down on Broadway era tocado na íntegra.
Começou então uma série de boatos e debates sobre a possibilidade da volta da formação clássica do grupo (Peter Gabriel, Steve Hackett, Tony Banks, Mike Rutheford e Phil Collins). As espectativas em torno da caixa eram imensas, e no meio disto tudo dois fatos quase enlouqueceram os fãs. O 1º foi a notícia de que foi feita uma regravação de Carpet Crawlers, na qual os 5 músicos participaram. A outra foi uma declaração de Phil Collins, que disse que, se Peter Gabriel aceitasse reassumir os vocais do Genesis numa eventual turnê de reunião, ele retornaria com prazer, como baterista.
Porém, até agora isto não aconteceu. A caixa foi lançada em fins de 1998, intitulada "Genesis Archive :1967-1975". Um pacote indispensável para qualquer fã antigo da banda que se preze, este álbum, além da apresentação ao vivo de "The Lamb..." na íntegra, ainda possui versões ao vivo de clássicos como Dancing With the Moonlit Knight, Firth to Fifth, Supper's Ready e Stagnation. E ainda possui uma série de músicas inéditas, entre as quais se destacam The Shepherd, Pacidy, Twilight Alehouse, Let us Now Make Love e Patricia, dentre muitas outras.
No ano seguinte, sairia uma coletânea do grupo : "Turn it on Again", com os maiores sucessos. Encerrando o CD, apareceu a tão falada regravação de Carpet Crawlers, onde Peter Gabriel reaparece nos vocais, Steve Hackett na guitarra, e Phil Collins na bateria, e também cantando um trecho da música. Por enquanto é tudo que se tem em termos de reunião da formação clássica. Os fãs torcem por boas notícias, e esperam uma nova revelação.
1969 - From Genesis to Revelation
1970 - Trespass
1971 - Nursery Cryme
1972 - Foxtrot
1973 - Selling England by the Pound
1974 - The Lamb Lies Down on Broadway
Nenhum comentário:
Postar um comentário