Prog

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terça-feira, 2 de novembro de 2010

Vulcano

VulcanoEm uma época difícil em que o nosso país passava por uma forte transição política, social, econômica e musical, na Europa surgia a NWOBHM, e também surgiam bandas que revolucionavam o metal tradicional criando uma sonoridade mais agressiva que ficaria conhecido como Black Metal, Death Metal. Aqui no Brasil nos anos de 81 e 82 não foi diferente a dificuldade era muito grande. Só que não era assim que pensava Zhema, Paulo Magrão, Carli Cooper quando criaram a banda VULCANO.
E foi assim que começou a trajetória desta banda que historicamente ajudou a enraizar e difundir o metal pesado por este país sendo considerada a primeira banda de black/death de toda América Latina, seu primeiro registro foi entre 82 e 83 com compacto duplo "Om Pushne Namah" cantado em português que hoje é uma verdadeira relíquia do metal underground brasileiro, e marca a trajetória de J. Piloni (bateria) pela banda.
Os shows foram surgindo, mas as dificuldades eram imensas, a banda tinha que produzir seus próprios shows desde colar os cartazes como até montar a própria estrutura para tocar, mas tudo tinha suas compensações, isto servia de força para o Vulcano seguir em frente e em 84 lançam a demo-tape "Devil On My Roof".
As primeiras mudanças de formação começam a surgir e a banda ainda não tinha conseguido adentrar o tão fechado cenário metal paulistano, por ser de Santos o Vulcano despontava-se mais pelo interior de São Paulo do que na capital fato esse que levou a banda a gravar no ano de 1985 o Vulcano Live!. Gravado no mês de agosto na cidade de Americana, sem qualquer tipo de mixagem, foi o primeiro disco ao vivo de metal lançado no Brasil e levou ao publico toda agressividade do metal pesado gerado por Zhema no baixo, Soto Junior na guitarra, Zé Flávio na guitarra base, Laudir Piloni na bateria e Angel nos vocais.
E foi com essa formação que surgiu o primeiro disco de black metal brasileiro "Bloody Vengeance" em 1986 chocando a mente de muita gente. Um disco sombrio, obscuro com letras enigmáticas, indiretas e hoje em dia soa mais atual do que nunca. Nos anos que se seguem a banda lança o "Anthropophagy" (87) e o "Who Are The True" (88) que foi um grito de revolta a uma situação que vinha sendo imposta por uma mídia mercenária que não vivia as coisas que aconteciam no underground e queriam que as bandas se tornassem mais populares, pasteurizadas o que viria acontecer na década de 90. Contra isto e uma situação de coisas o Vulcano lança em 90 o "Rat Race" e resolvem dar uma parada para por as idéias em ordem. Neste período de reflexão o Vulcano ainda fez alguns shows, mas nada de concreto, é nesta época que a gravadora Cogumelo Records resolve relançar em cd os discos da banda e assim o Vulcano retoma o seu caminho a banda ainda participa no ano de 2000 de uma coletânea lançada pela gravadora com a musica Bloody Vengeance. Em dezembro de 2001 são pegos de surpresa com a morte de Soto Jr. (guitarra) vitima de pressão alta, foi uma grande perda iam se embora anos de amizade e experiências vividas dentro do cenário underground brasileiro. Em 2003 o Vulcano dá a volta por cima e grava um novo álbum intitulado "Tales From The Black Book", com Zhema (baixo), Angel (vocal), Arthur (bateria), André (guitarra) e Passamani (guitarra) na formação, somente lançando em fevereiro de 2004 devido a problemas com a arte, este cd resgata toda a fúria dos anos 80 acumulados por todos estes anos de silencio. Trazendo de volta uma lenda chamada VULCANO.
Em 2006 o VULCANO lança 2 músicas inéditas em um Split Vinil com o Nifelheim da Suécia, com as músicas The Evil Always Return e Suffered Souls.

Links:
1985 - Live (LP)
1986 - Bloody Vengeance (LP)
1987 - Anthrophofagy (LP)
1988 - Who are the True (LP) 
1990 - Ratrace  

1998 - Live (CD)
2000 - Bloody Vengeance (CD)
2004 - Tales from the Black Book (CD)
2009 - Five Skulls and One Chalice (CD)

Korzus

A banda paulistana Korzus, formada atualmente por Marcello Pompeu (vocal), Dick Siebert (baixo), Antonio Araújo e Heros Trench (guitarras) e Rodrigo Oliveira (bateria), surgiu em meados de 1983. Sua primeira aparição data de outubro daquele ano, quando a formação trazia Marcello Pompeu (vocal), Marcello Nicastro (guitarra), Silvio Golfetti (baixo) e Luiz Maurício S. Oliveira "Brian" (bateria).

O primeiro nome provisório da banda foi Hand Of Doom, música do Black Sabbath, que seria usado apenas para que participassem do "1º Encontro Musical do Colégio Costa Braga". Depois, escolheram Korzus, que foi tirado literalmente da porta do armário da casa do baterista Zema, escrita pelo guitarrista Marcos Kekas, da banda Ethan.

Dois anos depois, já contando com Silvio, Dick e Pompeu, além de Eduardo Toperman (guitarra) e Maurício "Brian" (bateria), fizeram sua estreia fonográfica com as faixas Guerreiros do Metal e Príncipe da Escuridão na coletânea "SP Metal 2", lançada pela Baratos Afins.

A música "Guerreiros do Metal" rapidamente tornou-se um hino entre os headbangers da época e serviu para projetar o Korzus no cenário nacional, resultando no lançamento do álbum "Korzus Ao Vivo" (Devil Discos), lançado em 1986.

No ano seguinte, ocorreram as saídas de Toperman e Brian, e entrada do baterista Zema Paes, line-up que gravou o primeiro LP, "Sonho Maníaco" (Devil Discos). Em 1987, após uma série de shows pelo Brasil, aconteceu o suicídio do baterista Zema, que foi um choque para a banda e para a cena do Metal nacional. Seu substituto, Roberto Sileci "Betão" foi recrutado ao mesmo tempo em que Silvio passou a dividir as guitarras com Marcello Nicastro. Naquela fase a banda passou a compor em inglês e em 1989 lançou o álbum "Pay For Your Lies" (Devil Discos).

Entretanto, o marco definitivo para a banda veio em 1991, com "Mass Illusion" (Devil Discos), que fez o Korzus realizar inúmeros shows e de onde saiu o primeiro clipe, "Agony". Em abril de 1992, ocorre a primeira turnê internacional, "Mass Illusion European Tour 92", com datas na França, Itália, Inglaterra e Alemanha.

Mesmo com a ótima receptividade e mais shows no Brasil, em 1993, o baterista "Betão" é substituído por Ricardo Confessori (Angra, Shaman e Garcia & Garcia), que ficou até o final do ano e cedeu o posto para Fernando Schaefer "Fernandão", na mesma época em que Nicastro deixa a banda.

O novo período como quarteto se resumiu a alguns shows, até a chegada de Marcelo Nejen "Soldado". Em 1995 é lançado "KZS", produzido por Steve Evetts (Sepultura, Symphony X, M.O.D., Skid Row, Whiplash, Misfits), com destaque para as faixas "Internally" e "Namesake", que renderam videoclipes.

Em dezembro de 1996 ocorreu a primeira turnê pelos Estados Unidos, com shows ao lado do Biohazard e do S.O.D.. Em 1998 ocorrem mais alterações no line-up, com a saída de "Soldado" e Fernandão, substituídos por Heros Trench e Rodrigo Oliveira, respectivamente. Neste ano, foram destaque nacional do festival "Monsters Of Rock", que rendeu o lançamento do CD ao vivo, "Live At Monsters Of Rock", com músicas ao vivo e bônus de estúdio. O evento contou com a presença das bandas Dorsal Atlântica (RJ), Glenn Hughes, Savatage, Dream Theater, Saxon, Manowar, Megadeth e Slayer.

O álbum seguinte, "Ties Of Blood" (2004), recolocou a banda no patamar mais alto da cena nacional, com o Korzus fazendo uma extensa turnê de promoção.

Em 2007, Marcelo "Soldado" Nejen foi convidado a substituir temporariamente Silvio Golfetti, que estava em tratamento do braço esquerdo, devido a uma fratura ocorrida anos antes. Quem também o substituiu temporariamente foi André Curci (Threat, Musica Diablo).

A banda atualmente se encontra no início dos trabalhos de promoção do novo CD, "Discipline Of Hate", que será lançado mundialmente pela gravadora alemã AFM Records.



Links:

1986 - Korzus - Ao Vivo
1987 - Sonho Maníaco
1989 - Pay for Your Lies
1991 - Mass Illusion
1995 - KZS
2000 - Live at Monsters of Rock
2004 - Ties of Blood
2010 - Discipline Of Hate

Witchhammer

Potente Thrash Nacional da Velha Escola, agora que eles voltaram a ativa vocês tem uma nova oportunidade de ir a seus shows e de dar aquele velho apoio levando seus discos pra casa. Apoiem o UNDERGROUND caralho, seja como for! (atendendo ao pedido da Warrior Queen)

''O Witchhammer, carinhosamente chamado de Witch, foi fundado em 1986, hibernou durante alguns períodos dos anos noventa e retomou a estrada em 2003 para, mais uma vez, não deixar pedra sobre pedra. A banda, que mantém praticamente a formação original, sempre se caracterizou pelo grande entrosamento com seu público, proporcionando apresentações inesquecíveis em Minas Gerais e em todo o Brasil. Um traço marcante do Witch sempre foi o fato de desafiar limites musicais, enfrentando as barreiras de se transitar em diversos estilos e fazendo metal dos mais pesados e sinceros.

Além de Teddy, Casito e Paulo Caetano (da formação original), a banda conta também com o guitarrista Rogério Sena (ex Refen, Hellraiser), que entrou para a família Witch após a saída de Vermelho (Igor Farah).

Agora, com seu novo CD pela Cogumelo, Ode to Death (2006), o Witchhammer espera rever os amigos e tocar em todos os estados do Brasil, trazendo em seu repertório as músicas do novo CD e dos álbuns anteriores, que servem para ilustrar bem, não só a história do Witch, mas também do metal mineiro, do qual a banda se orgulha fazer parte.

A bruxa está solta novamente!!!

VIDA LONGA AO METAL NACIONAL''


Links:

1988 - The First and the Last
1990 - Mirror, My Mirror
2006 - Ode to Death

sábado, 23 de outubro de 2010

Sepultura

Quando a maldição foi lançada, poucos imaginavam que aqueles despretensiosos garotos iriam voar tão longe. Como muitos sabem o SEPULTURA nasceu como uma brincadeira no começo dos anos 80 na cidade de Belo Horizonte. Mas o destino foi generoso, e não brincava, quando colocou no caminho do metal Paulo Jr. (bx), Jairo Guedez (g), Max (g) e Igor Cavalera (bt).

O Death Metal Brasileiro ainda engatinhava quando o SEPULTURA lançou sua primeira gravação, o famoso split álbum BESTIAL DEVASTATION/SÉCULO XX (85), dividido com os conterrâneos mineiros do OVERDOSE. Músicas extremas como'‘Bestial Devastation' e 'Antichrist' mostravam à que vinha a banda, e começava a crescer uma legião de fãs pelo Brasil. Após este primeiro passo, foi inevitável ao SEPULTURA realizar a grande experiência musical da banda de metal surgida do nada, um disco próprio.

E nasceu MORBID VISIONS (86), um álbum memorável, apesar da produção precária. Como na gravação anterior há bons riffs e músicas, um exemplo é o hino 'Troops of Doom'. O disco proporcionou o começo dos shows pelo Brasil, mas também a despedida de Jairo Guedez.

O SEPULTURA crescia com uma velocidade sem precedentes na cena brasileira. E conseguiram sem demora preencher a vaga deixada por Jairo, com o excelente músico Andreas Kisser, dotado de um estilo inovador e arrojado. Foi em seguida lançado SCHIZOPHRENIA(87), um álbum cheio de gás novo que logo tornou-se um marco do metal brasileiro devido á boa produção e músicas marcantes ( 'Escape to the void' e a instrumental 'Inquisition Symphony', entre outras). Em turnê, a banda foi escalada para tocar em lugares de difícil acesso, como Manaus no Amazonas.

A partir deste ponto o SEPULTURA passou a despertar interesse mundial. O furor provocado pelo SCHIZOPHRENIA fez com que houvesse um lançamento pirata do disco por uma gravadora européia, que chegou á inacreditável marca de 30.000 cópias vendidas (porém sem a banda poder usufruir dos direitos autorais).

Após a boa repercussão do disco de 1987, o SEPULTURA continuou a galgar os degraus da fama, assinando um contrato de longos anos com a gravadora Holandesa RoadRunner. Isso possibilitou à banda gravar aquele que veio a ser um dos discos mais respeitados da história do metal mundial. BENEATH THE REMAINS(89), é até hoje uma grande referência. Foi gravado no Brasil, e apesar do orçamento apertado trouxeram o produtor norte-americano Scott Burns. Ele foi uma peça fundamental devido á sua experiência. Proporcionou condições favoráveis de trabalho para a banda e os ensinou a trabalhar como profissionais, passando informações valiosas aos músicos iniciantes. O produtor mixou e masterizou o trabalho em sua terra natal, algo inédito para uma banda de metal brasileiro na época.
Lançado o disco o SEPULTURA partiu para sua primeira turnê internacional, viajando pela Europa junto com os alemães do Sodom, Estados Unidos, e México. A banda chamou atenção por onde passou e seu nome despontou na mídia mundial. Nesta turnê encontraram uma de suas fontes de inspiração, Lemmy Kilmister e seu Motörhead, cruzaram o muro de Berlim ainda na época da guerra fria, e até conheceram o Metallica (banda muito forte na época). Foi gravado nesta época o primeiro vídeo clipe do SEPULTURA, 'Inner Self ', que tal qual 'Mass Hypnosis' e ‘Beneath the Remains’, tornou-se um clássico da banda.

A história continua com o disco ARISE (91). Curiosamente ele foi lançado antes no Brasil devido ao festival Rock in Rio II, no qual o SEPULTURA foi um dos destaques. Esta versão antecipada leva o título ARISE ROUGH MIXES.
Logo a apresentação no Rio a banda promoveu um show gratuito em São Paulo na praça Charles Müller em frente ao estádio do Pacaembu. A audiência de aproximadamente quarenta mil pessoas mostra a força que o SEPULTURA já possuía. Infelizmente algumas pessoas confundiram o espírito de confraternização dos fãs, e um rapaz foi assassinado. Esta fatalidade criou um falso mito sobre o público da banda, que repercutiu por muitos anos negativamente fazendo com que muitos produtores de shows Brasileiros temessem marcar shows com o grupo.

No exterior, por sua vez, a turnê do ARISE foi longa e passou por lugares longínquos e inéditos como Grécia e Japão. Na Austrália foi lançado um dos primeiros singles oficiais da banda, o ‘Third World Posse’. Outros singles deste álbum são 'Under Siege' e 'Dead Embryonic Cells'.

Na Holanda tocaram estrearam em um festival internacional de grande repercussão, o ‘Dynamo Open Air’, para mais de trinta mil pessoas. E atraíram mais de 100.000 fãs, nas duas apresentações feitas em estádios, quando estiveram na Indonésia. Lá também foram premiados com fitas cassetes de ouro pelas excelentes vendas.

Gravaram os clipes de ‘Arise’ e ‘Dead Embryonic Cells’, e lançaram seu primeiro home-vídeo, ‘Under Siege’, que foi gravado em Barcelona, Espanha. Com todos estes acontecimentos ligados ao disco ARISE o SEPULTURA firmou seu nome mundo a fora.

CHAOS A.D. (93) foi um dos passos mais importantes da história da banda. O SEPULTURA optou por um lado musical nunca antes explorado, misturando seu som brutal com elementos de música popular e com isto definiram a linha musical de vanguarda que se tornou sua marca registrada.
O lançamento do CHAOS A.D. foi em grande estilo, em um castelo medieval na Inglaterra e com a presença de boa parte da imprensa mundial. O SEPULTURA foi capa de muitas revistas por todo o mundo. Nesta turnê a banda foi até Israel gravar o clipe da música ‘Territory’, também lançada como single. Este vídeo foi eleito o melhor Vídeo Clipe do ano pela MTV Brasil, que levou a banda á Los Angeles para receber o astronauta de prata.

Outros clipes/singles tirados deste álbum foram ‘Refuse/Resist’ e ‘Slave New World’, e o home-vídeo ‘Third World Chaos’.

Nesta turnê o SEPULTURA foi a primeira banda de Metal da América Latina a se apresentar no famoso e tradicional festival “Monsters of Rock”, no Donington Park, Inglaterra. E também a primeira banda do Brasil a tocar na Rússia.
De volta á terra natal a banda foi convidada a tocar no festival ‘Hollywood Rock’ só após um abaixo-assinado feito pelo fã clube oficial brasileiro. Isso devido ao boicote por parte dos organizadores do evento, amedrontados com triste incidente em SP anos atrás.

Outro momento que deve ser registrado é o projeto paralelo de Max e Alex Newport, NAILBOMB, que teve o suporte de Andreas, Igor e Dino Cazares. A dupla lançou um disco, POINT BLANK, e se apresentou no ‘Dynamo Open Air’. O que resultou no Disco ao Vivo PROUD TO COMMIT COMMERCIAL SUICIDE, virando algo culto entre os fãs da banda.
A concepção do disco ROOTS (96) começou com a experiência musical e espiritual que o SEPULTURA teve com a tribo dos índios XAVANTES. A música 'Itsari' foi gravada na Aldeia Pimentel Barbosa no ano de 1995, ás margens do Rio das Mortes no Estado de Mato Grosso. Já o restante do álbum foram feitas em Malibu no estúdio Índigo Ranch, dotado de instrumentos de idade avançada, e fazendo da gravação a mais crua o possível.
Neste disco a banda mergulhou fundo nas experiências musicais. Os clipes/singles foram 'Roots Bloody Roots' gravado na cidade de Salvador; 'Attitude' que teve fotos de tatuagens de fanáticos por SEPULTURA como capa e contou com a participação especial da família Gracie no vídeo clipe. 'Ratamahatta' foi um clipe diferente de todos os anteriores do SEPULTURA, feito todo em animação gráfica computadorizada. Ainda foi lançado o disco duplo THE ROOTS OF SEPULTURA, no qual um dos discos conta boa parte da história musical da banda, e o segundo é o álbum ROOTS.


O SEPULTURA continuava fazendo suas incansáveis turnês pelo mundo, só que o ambiente interno era de desgaste. A banda foi convidada para se apresentar nos maiores festivais europeus, e novamente no 'Monsters of Rock' como uma das principais atrações. Porém o destino impediu Max de se apresentasse no festival, já que o grande amigo da banda, filho da empresária e afilhado do vocalista (Dana Wells) havia falecido. E em uma das mais importantes apresentações da carreira da banda o SEPULTURA estava como um trio. Neste dia contaram com a ajuda de diversos amigos para conseguir fazer o show, pois a notícia havia sido um grande choque para todos.

O público presente entendeu a situação e fez um minuto de silêncio a pedido da banda, uma cena que dificilmente se repetirá com tamanha multidão.

Após um breve luto, o SEPULTURA precisou voltar a estrada, pois haviam muitos compromissos agendados. A banda estava no topo da pirâmide e o respeito e admiração que desfrutavam era fora do comum. Infelizmente os constantes desentendimentos com sua empresária Glória, que é esposa do Max, fizeram a banda chegar numa encruzilhada, e a Sepultribo se separou. Andreas, Igor e Paulo tinham a convicção de que a empresária já não estava mais os representando do jeito que deveria e comunicaram sua decisão de não renovar seu contrato de trabalho. Havia a opção de que ela continuar a cuidar dos interesses de Max. Ele não aceitou a decisão dos companheiros e abandonou o SEPULTURA, achando estar sendo injustiçado. A partir de então as trevas caíram sobre o SEPULTURA e o futuro era incerto.

Com o tempo a banda acostumou-se á nova situação imposta. Sabia que não iria parar o trabalho de uma vida toda dessa forma e tampouco podiam deixar seus fãs órfãos. O SEPULTURA é mais que entretenimento, é uma ideologia. E assim que puderam começaram a escrever seu próximo álbum, como um trio. Max formou sua própria banda (SOULFLY).Igor, Paulo e Andreas passaram a escrever de uma nova forma. Agora o baixo ganhou uma importância ainda maior, como base das músicas. Andreas assumiu os vocais, mas nunca havia cantado antes e não se sentiu á vontade no posto. Decidiram encontrar um novo vocalista para o SEPULTURA.

As fitas de demonstração chegaram em grande quantidade aos escritórios da RoadRunner, e o processo de seleção não foi fácil. Um pequeno grupo de finalistas foi selecionado, e os candidatos receberam uma fita com músicas nas quais deveriam trabalhar (inclusive escrevendo letras) antes de encontrarem a banda para os testes. Os testes finais aconteceram no Brasil, porque para fazer parte do SEPULTURA é imprescindível gostar do país e se identificar com a cultura local. Também foi levado em conta a integração e a afeição entre o grupo.
Desde o começo da procura, a voz e a aparência de Derrick Green impressionou. Quando ele esteve no Brasil para os testes sentiu-se em casa, virou Palmeirense, e se entendeu extremamente bem com a banda. Ele preenchia todos os requisitos necessários, e se tornou parte da família.

A maior parte das músicas já estava pronta, esperando a gravação dos vocais, e a banda estava sob pressão para lançar o disco, mas trabalharam buscando a perfeição. Em 1998 foi lançado AGAINST, um álbum empolgante, de composições e letras fortes. Muitos sentimentos foram traduzidos neste disco, o resgate da autoconfiança, a vontade da volta à estrada.

AGAINST contou com a participação de amigos de longa data da banda. João Gordo em ‘Reza’ e Jason Newsted em ‘Hatred Aside’; e também o grupo de percussão japonês KODO hospedou a banda na ilha de Sado, onde vivem, e lá gravaram a faixa ‘Kamaitachi’.

Era chegada a hora de reencontrar fãs e deixar claro que as fofocas propagadas pela mídia (que anunciou o fim da banda) não passavam de grandes mentiras. O primeiro show do AGAINST foi um grande evento beneficente em São Paulo, o BARULHO CONTRA FOME.
Apesar de feito vários shows com suas antigas bandas, o Derrick nunca havia se apresentado para um público tão fiel, exigente e numeroso como os fãs brasileiros do SEPULTURA. Para tanto a banda ensaiou tocando em uma casa de shows pequena em Los Angeles (Brick by Brick), usando o nome ‘TROOPS OF DOOM’.

O BARULHO CONTRA FOME foi um grande sucesso, que os 30.000 fãs presentes lembrarão para sempre. Convidados muito especiais tocaram aquele dia. Mike Patton veio da Itália para o show. Jason Newsted veio dos Estado Unidos. E os índios Xavantes enfrentaram a selva de pedra da metrópole. Carlinhos Brown veio da Bahia. Jairo Guedez matou as saudades da ex - banda, e o lendário Zé do Caixão abençoou a banda. A crítica e a empolgada audiência receberam calorosamente o Derrick na Sepultribo.

Saíram do AGAINST os singles ‘TRIBUS’, ‘AGAINST’ e ‘CHOKE’ (este último ganhou um vídeo clipe gravado durante o BARULHO CONTRA FOME). A turnê rodou o mundo todo e foi bem sucedida. O SEPULTURA tocou pela primeira vez com os gigantes do metal SLAYER, pondo fim ao mito sem fundamentos de que as bandas não se davam bem. E para a alegria dos fãs brazucas de longa data fizeram uma turnê nacional, após anos de espera.

Finda a turnê os quatro músicos estavam ansiosos para começar a trabalhar o próximo disco. A época do AGAINST será sempre lembrada como o oxigênio da carreira do SEPULTURA, inspirado quando mais precisaram e que lhes deu força para construir toda uma Nação.

NATION (2001) é um álbum que já nasce vitorioso e brilhante, inclusive como disco de ouro. Andreas, Paulo, Derrick e Igor criaram um lugar utópico, para as pessoas que importam: fãs, amigos e famílias. A letra de ‘SEPULNATION’ é auto-explicativa, a música do SEPULTURA é sua arma, e eles a usam com destreza.
Graças á ajuda da vasta Sepultribo na Internet, a banda foi convidada para tocar na terceira edição do Rock in Rio. Lá o NATION foi apresentado á multidão de 150.000 pessoas, não havia um ser que não estivesse empolgado naquela memorável noite de janeiro (apesar de alguns veículos da imprensa nacional ainda não aprenderem a respeitar um dos maiores fenômenos da música brasileira, o mundo viu com certeza o poder de fogo que os espera). Entraram no palco ao som do hino ‘VALTIO’, feito com a colaboração dos músicos finlandeses do APOCALYPTICA.

Também colaboraram na Nação os músicos Jello Biafra e Dr. Israel, e quota pensamentos de gente brilhante (Madre Teresa de Calcutá, Albert Einstein, Gandhi e o 14o Dalai Lama).

O disco mostra um SEPULTURA maduro, cicatrizado e consciente. Resultado da estabilidade proporcionada por Derrick, que participou ativamente na composição do álbum. Seu crescimento na banda é explícito.



Links:



Bestial Devastation - [EP] - (1985)
Morbid Visions - (1986)
Schizophrenia - (1987)
Beneath The Remains - (1989)
Arise - (1991)
Third World Posse - [EP] - (1992)
Chaos A.D. - (1993)
Roots - (1996)
The Roots Of Sepultura - (1996)
Blood-Rooted - (1997)
B-Sides - (1997)
Against - (1998)
Nation - (2001)
Under A Pale Grey Sky - Ao Vivo - (2002)
Revolusongs - [EP] - (2002)
Roorback - (2003)
Live In São Paulo - (2005)
Dante XXI - (2006)
The Best Of Sepultura - (2006)
A-Lex - (2009)

 

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Angra

Angra é uma banda de heavy metal Melodico que foi formada em 1991, na cidade de São Paulo, por André Hernandes (guitarra), Rafael Bittencourt (guitarra), Luís Mariutti (baixo), Andre Matos (vocal) e Marco Antunes (Bateria). O nome significa “deusa do fogo” na mitologia tupi.

Em pouco tempo de banda, Andre Hernandes deixou a banda, e entrou em seu lugar o atual guitarrista Kiko Loureiro. O quinteto ensaiou praticamente por um ano para lançar sua primeira demo tape, intitulada Reaching Horizons, ainda em 1992. No ano seguinte, o Angra teve a oportunidade de gravar seu primeiro CD, Angels Cry. Considerado por muitos o melhor álbum da banda, Angels Cry obteve ótima repercussão tanto no Brasil como no exterior, graças a inteligente mistura de peso e das influências da banda Eretus e influencias clássicas e melódicas que marcavam o som da banda. Pouco antes das gravações do álbum, Marco Antunes deixou a banda, o que fez com que a bateria fosse gravada por Alex Holzwarth (Rhapsody). Em seguida, Ricardo Confessori assumiu as baquetas do Angra.

Depois de passar o ano de 1994 excursionando pelo Brasil, o Angra iniciou as gravações de seu novo álbum em 1995. Holy Land, lançado em 1996, é o disco que trouxe à tona diversas influências brasileiras, sem, no entanto, deixar de lado o peso e a técnica do heavy metal. Isso valeu à banda ainda maior reconhecimento internacional, culminando em shows por diversos países europeus, como Itália, França e Grécia, além de proporcionar ao grupo mais um disco de ouro no Japão. No início do ano seguinte, a banda faria sua primeira turnê pelo Japão, um dos países no qual são mais populares. Como conseqüência de tantos shows bem sucedidos, foi lançado em 1997 o EP Holy Live, com quatro faixas ao vivo gravadas em Paris. A banda abriu o show da Eretus no show em São Paulo e também teve o clipe da música Make Believe indicado para o MTV Video Music Awards de 1997, acabando como um dos mais votados.

O ano de 1998 marcou o início de mais uma produção do Angra. Com Chris Tsangarides na produção (que trabalhou, entre outros, com Helloween e Judas Priest), a banda antecipou seu próximo álbum com o single de três músicas Lisbon, lançado em julho daquele ano. O álbum completo, intitulado Fireworks foi lançado em setembro do mesmo ano, mostrando a banda menos voltada para os ritmos brasileiros e mais dedicada ao heavy metal. Durante a turnê do álbum, problemas de relacionamento se agravaram, resultando na saída de Andre Matos, Luís Mariutti e Ricardo Confessori da banda - para formarem a banda Shaaman.

Somente em 2001, ingressaram na banda (junto com os já guitarristas Kiko e Rafael) Edu Falaschi como vocalista, Aquiles Priester na bateria e Felipe Andreoli no contrabaixo. No mesmo ano foi lançado o álbum Rebirth com críticas extremamente bem positivas alcançando sucesso mundial quase imediato. em Março de 2002 o EP Hunters and Pray foi lançado. Em 2004 com o novo Temple of Shadows, um álbum conceitual que narra a saga de um cavaleiro das Cruzadas conhecido como Shadow Hunter e que se passa no final do século XI, Angra atingiu novamente o patamar de banda de sucesso estrondoso principalmente no Japão. Depois de uma longa espera, em 2006 foi lançado Aurora Consurgens em comemoração também aos 15 anos da banda; infelizmente o álbum não decolou e foi considerado o mais fraco da banda pela maioria dos fãs. Após o albúm a banda fez uma turnê comemorativa dos 15 anos de banda, logo depois, pararam por cerca de dois anos por conta de problemas com o ex-empresário da banda.

Após um hiato de dois anos, o Angra volta com Ricardo Confessori assumindo o lugar de Aquiles Priester na bateria. A banda volta a fazer shows em maio de 2009 com o Sepultura em uma turnê denominada Back to Life World Tour.

Em fevereiro de 2010 a banda entra novamente em estúdio para gravar um novo álbum. A pré produção fora feita anteriormente no sítio do baterista Ricardo Confessori e o grupo lançou uma série de 13 vídeos mostrando todo o processo desde a composição até a gravação do álbum.
Em 11 de agosto de 2010 é oficialmente lançado Aqua, o novo disco do Angra que contém 10 faixas e um remix de Lease of Life na versão japonesa.

Aurora Consurgens
Após meses de espera e cerca de quase 5 milhões de álbuns vendidos ao redor do mundo[carece de fontes?], é lançado em novembro de 2006, o álbum Aurora Consurgens caracterizado por ser uma comemoração dos 15 anos da banda e possuir elementos de todos os seus discos anteriormente lançados (coisa que se refletiu na turnê). Baseado no livro homônimo, o álbum possui mais uma vez a capa feita pela portuguesa Isabel de Amorim e aborda uma temática mais voltada aos distúrbios mentais e psicológicos.

Segunda crise
Além da baixa repercussão do Aurora Consurgens, brigas internas e discussões com o empresário Toninho Pirani, levaram novamente o Angra às manchetes dos principais órgãos de imprensa do Metal.
Para piorar a situação, Pirani também se envolveu em diversos problemas (inclusive legais) que culminaram na reformulação total da revista Rock Brigade com redução drástica na tiragem e a troca de diversos colaboradores "das antigas", que também participavam diretamente de atividades envolvendo o Angra.
Com sérios problemas financeiros e brigas internas, o Angra encarava a mesma crise vivida na época de Andre Matos, Luis Mariutti e Ricardo Confessori. Na época, chegou a se especular a troca do empresariamento da banda, encerrando uma parceria de 15 anos entre o Angra e Toninho Pirani, detentor dos direitos do nome da banda. Porém, o que se confirmou foi a saída do baterista Aquiles Priester, após declarações bastante polêmicas ao longo de 2007 e 2008.


Retorno
Em recentes entrevistas, Rafael Bittencourt e Kiko Loureiro afirmaram que o Angra estaria de volta entre abril e maio de 2009, com uma turnê para marcar o recomeço das atividades da banda.Loureiro, inclusive, chegou a anunciar a gravação de um novo disco, que seria lançado em 2010, tendo agora, Monica Cavaleira como empresária.
Em 2009 o site da banda, em construção, estampava como título do site a frase "Bring the sunrise again" (traduzido do inglês como "Traga o nascer do sol novamente"), um verso da canção "Nova Era", o que indicava um possível retorno. No dia 12 de março de 2009, o site do Angra retornou ao ar, com as frases Look Who's Back (Olhe quem está de volta, em português) e Back to Life ("de volta à vida", também um verso de "Nova Era"). A formação da banda trouxe o retorno do baterista Ricardo Confessori, que fez parte do Angra entre 1993 e 2000, quando criou o Shaman. Confessori retomaria o posto que foi ocupado por Aquiles Priester, que atualmente se dedica integralmente ao Hangar.
Em 12 de março de 2009, o site da banda passou a informar que o Angra faria uma turnê em conjunto com a banda Sepultura. A turnê passaria pelo Brasil no mês de maio pelas cidades de Recife, Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Ourinhos, Rio de Janeiro, Vitória e Governador Valadares.
Em 2010, a banda iniciou as gravações de seu novo álbum, intitulado Aqua, que foi lançado no segundo semestre. As gravações foram realizadas no Norcal Studios, em São Paulo.


Links:
(1993) Angels Cry
(1996) Holy Land
(1997)  Holy Live
(1998) Fireworks
(2001) Rebirth
(2003) Rebirth World Tour-Live In Sao Paulo
(2004) Temple of Shadows
(2006) Aurora Consurgens
(2010) Aqua

Ep's
(1992) Reaching Horizons
(1994) Evil Warning
(1996) Freedom Call
(1996) Live Acoustic at FNAC
(1998) Acoustic...and More
(2002) Hunters and Prey

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Terreno Baldio

Em 1973, João Kurk (vocais e flauta), Roberto Lazzarini (teclado) e Joaquim Correia (bateria) - ex companheiros de Islanders (cover de bandas de sucesso - 1966/1971), convidam Mozart Mello (guitarra) e João Ascenção (baixo) para formarem o Terreno Baldio, grupo de progressivo com forte inspiração na banda inglesa Gentle Giant.
Sua primeira apresentação notável ocorreu na noite de 28 de agosto de 1974, numa estrutura geodésica montada no Parque do Ibirapuera, especialmente para o evento “Festival do Cometa”, que reuniu várias bandas de rock, entre elas a Jazzco.
Em 1975, gravam o primeiro LP - Terreno Baldio, lançado pelo selo Pirata no ano seguinte, com prensagem de apenas 3.000 cópias.
Nesse mesmo ano, participam do festival Banana Progressiva, ocorrido no Teatro da GV, em São Paulo. O evento procurou apresentaro o que havia de progressivo na música brasileira como os grupos Vímana, Os Bolhas, O Terço, O Som Nosso de Cada Dia e Apocalypsis entremeados de outros grupos instrumentais e de vanguarda; tais como Hermeto Paschoal e grupo, Jazzco, A Barca do Sol - incluisive conta com a presença de Erasmo Carlos & Cia Paulista de Rock.
Por essa época, a fitas-master de registro do primeiro álbum extraviam-se, inviabilizando novas tiragens.
O ecletismo sonoro da banda funde elementos eruditos aos jazzísticos e a ritmos e harmonias extraído da música popular e regional brasileira; tais como xacado, baião, incluindo instrumentos de percussão típicos do nosso folclore. Os elementos poético remetem-se a temas daquele período e citam a liberdade, em oposição ao regime militar, a solidão e a poluição em alusão à vida em grandes cidades, como São Paulo.
No próximo registro, Além das Lendas Brasileiras - 1978, o tema conceitual do álbum foi encomendado pela gravadora (Continental/Warner) ao fechar contrato com o grupo. Naquele momento, Ascenção já havia sido substituído po Rodolfo Braga (ex-Joelho de Porco) no contrabaixo (início de 76). O novo repertório incluiu, além de temas do folclore nacional, a canção Passaredo, de Francis Hime e Chico Buarque, num arranjo original - tema vinculado à preservação da natureza.
Ao final de 1979, o grupo dissolve-se em função do declínio do progressivo junto às mídias e em função de um novo panorâma que se delineava junto ao universo pop.
Em 1993, o grupo reuniria-se parcialmente (Kurk, Lazzarini, Mello) - incluindo Renato Muniz no baixo e Ricardo Brasa na bateria - para um novo registro do álbum de 76, versão em inglês junto ao selo Progressive Rock Worldwide, visando o mercado europeu. O CD inclui faixas extras e constutiu-se, portanto, no terceiro trabalho a ser gravado.
Logo em seguida, a gravadora Rock Synphony, sediada em Niteroi, após longa pesquisa e sofisticada produção, relança o primeiro trabalho em versão CD, remasterizado na Itália pelo seu produtor original - Cesare Benvenuti.
No corrente ano (2008) , o grupo reuniu-se novamente para participar da VIrada Cultural, em São Paulo. Apresentou-se na Praça da República com a seguinte formação: Mozart Mello (guitarra), Lazzarini (teclados), Kurk (vocal), Cassio Poleto (violino) Renato Muniz (baixo) e Edson Guilard (bateria) - basicacemente, executou o repertório do primeiro LP - destacando-se “Este é o Lugar” e “Grite”.
Com novas apresentações marcadas, ao que tudo indica, essa nova formação seguirá carreira lastreada nos trabalhos da década de 70, de forma esporádica e sazonal.

Links:

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Secos & Molhados

Se a bossa nova foi uma revolução na música brasileira – porque sofisticou o samba e o uniu ao jazz e virou produto de exportação – e movimentos como a Tropicália e os grandes festivais de música dos anos 60 podem ser considerados mini-revoluções – porque renovaram a MPB – que nome dar ao que aconteceu com o grupo Secos & Molhados? Fenômeno talvez seja a palavra mais próxima. Desses que insuflam em meio a um sistema estabelecido, fazem um grande barulho, modificam costumes, provocam polêmicas e estardalhaços e desaparecem. Feito um cometa. (João Nunes/Correio Popular)
O conjunto, vocal e instrumental, se formou em 1971 por Ney Matogrosso (Vocais); Gerson Conrad (Violão e Vocais), João Ricardo (Violão, Gaita e Vocais) e Marcelo Frias (Bateria e Percurssão). Ney já havia se apresentado como amador em Brasília DF, onde morava, e tentara o rádio e a televisão, além de cantar em boates, até ser apresentado pela compositora e cantora e compositora Luli a João Ricardo.



O grupo surgiu no inicio de 1973 em São Paulo SP, e em agosto do mesmo ano gravou o LP Secos e Molhados, pela Continental, com Sangue latino (João Ricardo e Paulo Mendonça), O vira (João Ricardo e Luli) e Rosa de Hiroshima (Gerson Conrad e Vinícius de Moraes). O disco foi sucesso nacional, causo polêmica pela atitude ousada e performática possibilitando ao conjunto apresentar-se numa serie de espetáculos, entre os quais se destacam os shows no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro RJ, e no Ginásio Presidente Médici, em Brasília. No ano seguinte, o grupo exibiu-se na televisão mexicana, gravou seu segundo LP, Secos e Molhados, com Flores astrais (João Ricardo e João Apolinário), e Tercer Mundo (João Ricardo e Júlio Cortazar). Ainda em 1974 o conjunto se desfez, passando seus integrantes a atuar individualmente.


João Ricardo lançou um disco em 1975, João Ricardo, pela Philips, com suas composições Vira safado, Janelas verdes e Salve-se quem puder; apresentou-se no Teatro Bandeirantes, de São Paulo; e tentou depois ressuscitar o Secos e Molhados pelo menos quatro vezes, com diferentes formações, nenhuma incluindo qualquer outro membro original do grupo. Gerson Conrad ligou-se ao letrista Paulo Mendonça, a atriz e cantora Zezé Mota e a uma banda de oito elementos e gravou pela Som Livre Gerson Conrad e Zezé Mota, com Trem noturno e A dança do besouro (ambas com Paulo Mendonça). Gravou outros discos solo e continua compondo e fazendo shows. 

Links:

Discografia Recomendada: Brasil - Anos 70

1. O Terço - Criaturas da Noite (1975)

Maior clássico da discografia progressiva nacional, ''Criaturas da Noite'' faz parte do rol de obras lendárias. Equivale para o rock progressivo do Brasil à mais nobre mazurca européia. As notas iniciais do baixo introdutório de ''Hey Amigo'' despertam a todos que tiveram sua história musical perpassada pela musicalidade do O Terço. O jovem tecladista de então, Flávio Venturini, esbanja talento criando o maior símbolo do progressivo brasileiro nos anos 70, a extasiante suíte ''1974''. Destaques também para o folk rock de ''Queimada'', a introspectiva ''Ponto Final'' e a suavidade da música título ''Criaturas da Noite. ''Nesse rock estamos perto de ser a unidade final''!

2. Terreno Baldio - Terreno Baldio (1975)

"Terreno Baldio" está entre os trabalhos mais intensos e genuínos do progressivo brasileiro dos anos 70. O trio principal composto por Mozart Mello (guitarras), Roberto Lazzarini (teclados) e Fusa (vocais) comanda com habilidade, precisão e muita fantasia grandes momentos contidos nessa obra. Importante ressaltar a nítida influência do Gentle Giant, além do contexto histórico em que fora produzido, já que em plena ditadura militar criar músicas como "Este É O Lugar" e principalmente "Grite" demonstra ousadia e ideologia à flor da pele. A posição de destaque nessa enquete é plenamente autêntica e merecida!

3. Os Mutantes - Tudo Foi Feito Pelo Sol (1974)

Ao saltar as amarras da MPB e principalmente do movimento da Tropicália, Os Mutantes com formação distinta da original enveredou pela seara do rock progressivo com grande maestria. Trata-se da banda mais antiga e mais popular de toda essa discografia recomendada Brasil anos 70 e com "Tudo Foi Feito Pelo Sol" escreveu uma das páginas mais importantes de toda a discografia progressiva brasileira, com trabalhos de guitarras - Sérgio Dias e teclados - Túlio Mourão memoráveis e inesquecíveis. Diga-se de passagem, Túlio Mourão foi responsável pela composição da destacada "Pitágoras", obra-prima do álbum. Lamentável que nos dias atuais, com o retorno do grupo em 2007, este trabalho não foi trazido à tona como de fato merecia, provando que o rigor sonoro e virtuoso do rock progressivo a cada dia que passa se torna extremamente proscrito, em detrimento de um ambiente musical de fácil assimilação.

4. Casa Das Maquinas - Lar de Maravilhas (1975)

Formado a partir de uma dissidência do grupo Os Incríveis, o Casa das Máquinas começou fazendo uma mistura de pop, rock e gospel no seu primeiro disco, e ficou famoso pela mistura entre hard e glam no seu derradeiro álbum, Casa de Rock. Mas neste aqui, o segundo de sua carreira, o que houve foi um mergulho de cabeça no progressivo sinfônico, obtendo um resultado fantástico. Lar de Maravilhas, o disco, é dominado por peças longas, com variações de andamento, lindos solos do tecladista Marinho Testoni e do guitarrista Pisca, e harmonias vocais lideradas pelo baixista Carlos Geraldo e pelo guitarrista Aroldo. A beleza da parte lenta da faixa título, as melodias emocionantes de Astralização (com lindo solo de guitarra) e Raios de Lua (belo e sensível solo de moog ao fundo), a viagem psico-prog de Cilindro Cônico, os lindíssimos e longos temas de teclados em Vale Verde, assim como a apoteótica parte instrumental de Reflexo Ativo (que fecha o álbum) fazem deste um item inesquecível não só para quem viveu o prog brasileiro nos anos 70, como também para quem aprendeu a admirá-lo depois. Ainda merece destaque a parte roqueira do disco, com o hit Vou Morar no Ar, e o apelo hard em Epidemia de Rock e Liberdade Espacial.

5. Som Nosso de Cada Dia - Snegs (1975)

Obra mítica e extremamente consistente, já que todas as músicas são de alto nível, "Snegs" é considerado por muitos como o primeiro disco genuinamente progressivo do Brasil, ou seja, trabalho sem afetações e voltado de fato para o que se estava produzindo em termos de rock progressivo na Inglaterra nos anos 70. A formação disposta em power trio (baixo, bateria e teclados) e a sonoridade neste álbum remetem de imediato ao genial ELP, porém há generosas reminiscências floydianas com seus toques psicodélicos e inventivos, principalmente a cargo do tecladista Manito, que logo depois da gravação desse disco deixaria o grupo, fazendo apenas incursões especiais e aleatórias. Podemos afirmar que a primazia observada nessa obra jamais fora reencontrada pelo grupo nos trabalhos posteriores. Por isso mesmo, os paulistas do Som Nosso de Cada Dia, deixaram um legado único e super genial através do "Snegs".

6. Som Imaginario - A Matança do Porco (1973)

Wagner Tiso merecia uma estátua em praça pública pelos bons serviços prestados à música, típico instrumentista e arranjador de linhagem nobre, que quando acompanhado por não menos excelentes músicos, é capaz de produzir obras magistrais. Assim é "Matança do Porco", um dos trabalhos mais consagrados da discografia nacional setentista, possui de tudo um pouco: virtuosismo instrumental, arranjos elaborados e muita inventividade. Para quem aprecia um instrumental nervoso, vigoroso e também sinfônico, trata-se da pedida certa. Vários músicos que fizeram parte da banda conseguiram destaque na musicografia nacional como: Zé Rodrix, Tavito e Robertinho Silva. Muito do que ouvimos no clássico "Milagre dos Peixes" do mestre Milton Nascimento se deve a essa turma que vale muitos guinéus, além de influenciar muitos artistas, dentre eles o fantástico e saudoso Marco Antônio Araújo.

7. Moto Perpetuo - Moto Perpétuo (1974)

Grupo fundado por Guilherme Arantes, o qual foi responsável por sua futura carreira solo, cito aqui o quase desconhecido Moto Perpétuo,foi um dos ícones setentistas de destaque do rock progressivo nacional. Aliás um dos melhores entre as poucas produções desta época.Apesar de pouco conhecido do público geral, a banda deixou registrado um belíssimo album que lembra de primeira mão, o YES. Toda a linha harmonica de composição se baseia muito na banda inglesa, que também foi um referencial (se bem que na minha opinião , em pouca coisa) dos Mutantes em seu disco Tudo foi feito pelo Sol. Capa muito bela,Arantes faz os vocais e a tecladeira analógica com orgão, moog, piano, etc...acompanhado de cellos, baixo, guitarra e batera. O disco é de 1974 (LP) gravado em São Paulo e possui 11 belas faixas.Confiram.

8. Recordando o Vale das Maçãs - As Crianças da Nova Floresta (1977)

O ideal da vida no campo, a aproximação plena com a natureza e uma musicalidade sublime! Assim temos um diminuto perfil para o grupo Recordando o Vale das Maçãs. O folk que permeia todo o disco "As Crianças da Nova Floresta" não possui paralelos na discografia nacional, sendo pautado pela inclusão de generosas doses de sintetizadores, destaques também paras as flautas e violinos, numa das maiores formações do progressivo brasileiro com tamanha profusão de instrumentos. A suíte, de aproximadamente vinte minutos, que dá nome ao álbum beira a perfeição, composta integralmente pelo baterista Milton atinge as esferas mais elevadas do progressivo brasileiro - "É só você se conscientizar que a vida vem da luz da natureza". Uma pena que o mestre Nei Matogrosso ainda não tenha descoberto esse álbum para cantar suas músicas...

9. A Bolha - Um Passo A Frente (1973)

A Bolha é provavelmente o grupo mais obscuro dentre os relacionados (mas não menos talentoso), até mesmo pela curiosa trajetória que se iniciou seguindo os passos do rock básico dos Beatles, Stones e Jovem Guarda nos idos de 1965. Conseguiu certa projeção a ponto de tocar com vários artistas de renome no Brasil, até ingressar de cabeça no mundo progressivo em 1973 com o magnífico LP "Um Passo A Frente", participando inclusive do onírico festival Banana Progressiva. Atenção máxima para "Esfera", música impecável com várias mudanças de andamento, iniciando de forma acústica com flauta e violão, mas se desenvolvendo com uma força que remete ao que há de melhor no prog sinfônico mundial, após uma virada com o solo de sax mais louco do progressivo brasileiro nos anos setenta. O curioso é que após essa guinada para o mundo progressivo o grupo tenha caído num certo ostracismo, tentando retornar ao sucesso em 1977 com um trabalho bem menos intricado intitulado "É Proibido Proibir", se desligando quase que inteiramente do universo progressivo e retornando às origens executando um rock mais convencional.

10. O Terço - Casa Encantada (1976)

"Casa Encantada" traz a mesma formação do "Criaturas Da Noite", além disso traz o mesmo feeling, a mesma criatividade e acima de tudo grande brilhantismo, logo se trata de outro desfile de clássicos marcantes para os admiradores do grupo. Venturini toca como nunca em autênticas pérolas como "Cabala" e "Solaris", onde é fácil afirmar que o conjunto dessa obra o torna item obrigatório na discografia progressiva do país.


Fonte: http://progbrasil.com.br

domingo, 10 de outubro de 2010

Sá, Rodrix & Guarabyra

No ano de 1971 surgiu no Brasil um trio que, à sua maneira, marcou as vidas de todos com que eles cruzaram, ouviram suas canções e viveram os seus momentos: chamava-se SÁ, RODRIX & GUARABYRA, um (como se chamava na época) super group, formado por três artistas (Luiz Carlos SÁ, Zé RODRIX & Guttemberg GUARABYRA), que vinham desenvolvendo suas carreiras solo, mas que, movido pela amizade que os unia, pela identidade de seus estilos de composição e por seu modo de vida, decidiram em um disco que, na época, foi uma surpresa inesperada, graças à verve, ao brilho e ao inesperado e extremamente artístico resultado dessa união.

Foram, afinal, não um, mas dois discos (PASSADO, PRESENTE, FUTURO e TERRA) lançados pela EMI-Odeon, além de algumas participações especiais em algumas coletâneas, entre as quais a do Festival de Juiz de Fora de 1972. Aliás, de festivais eles sempre tiveram muito à contar: Luiz Carlos Sá era o mais ativo participante dos mesmos, tendo sempre uma ou duas canções classificadas; foi em um FIC que GUARABYRA levou o prêmio máximo com MARGARIDA e, alguns anos depois, foi o mesmo Festival de Juiz de Fora que Zé RODRIX (em parceria com Tavito) emplacou sob vaias a canção CASA NO CAMPO, mais tarde gravada por Elis Regina, e da qual uma parte da crítica musical carioca pinçou a expressão ‘Rock Rural’ para classificar a música que SÁ, RODRIX, GUARABYRA faziam.

Foi uma carreira intensa. De seu primeiro show no Teatro Opinião, com casas cheias todas as noites, os três partiram para o circuito da época: televisões, universidades, clubes, viajando pelo Brasil inteiro da maneira, como se fazia na época em que nada era mega, a não ser os problemas. Mas as músicas eram excepcionalmente boas: AMA TEU VIZINHO, PRIMEIRA CANÇÃO DA ESTRADA, CUMPADRE MEU, HOJE AINDA É DIA DE ROCK. No fim de seu primeiro ano juntos, mudaram-se para São Paulo, atendendo a um convite do amigo Rogério Duprat, que precisava dos três em sua produtora de comerciais. E no segundo LP apareceram ANOS SESSENTA, MESTRE JONAS, PINDURADO NO VAPOR e BLUE RIVIERA. Em São Paulo, por divergências ideológicas (Zé RODRIX começou a detestar estradas, viagens, hotéis, chuveiros de hotéis, camas de hotéis, etc.) e, depois de quase dois anos completos de vida em comum, os três se separaram, indo cada um perseguir a sua carreira solo. Enquanto Zé RODRIX enfrentava as vicissitudes do sucesso popular (nos mesmos hotéis que detestava) com diversos primeiros lugares nas paradas de sucesso, produzido pelas mãos dos bandidos que na época eram amadores e hoje são profissionais, SÁ e GUARABYRA andavam cada um tentando levar sua carreira solo da maneira que podiam e, num belo dia, em um show, decidiram voltar a cantar juntos.

Foi uma decisão acertadíssima: nos anos que se seguiram, os dois se tornaram o parâmetro de uma música com raízes no interior e na cidade, desenvolvimento daquele mesmo rock rural que haviam criado enquanto trio. Mas com muito mais proficiência: esses anos marcaram o Brasil com uma verdadeira enxurrada de sucessos, de que são exemplo SOBRADINHO, ESPANHOLA e as músicas feitas para a novela ROQUE SANTEIRO (ABC DE ROQUE SANTEIRO, DONA E VERDADES E MENTIRAS). Isso além de músicas que compuseram para outros intérpretes, como CAÇADOR DE MIM e outras.

Enquanto SÁ e GUARABYRA viajavam pelos caminhos do sertão, Zé RODRIX dava a sua contribuição à publicidade brasileira de maneira constante, percorrendo uma estrada que os três haviam iniciado juntos e que tanto SÁ quanto GUARABYRA também percorreram de maneira mais alternativa. No dia em que SÁ e GUARABYRA completaram dez anos, Zé RODRIX apareceu no show, em um circo perto do Anhembi. Quando se completaram vinte e cinco anos de rock rural, SÁ e GUARABYRA convidaram Zé RODRIX para fazer um arranjo no disco. Ele fez e acabaram cantando juntos umas três músicas nesse mesmo disco. Mas foi só agora, quando seu encontro inicial completa trinta anos, que decidiram colocar o pé na estrada. Mais experiente, mais vivido e rigorosamente disposto a retomar com o mesmo ímpeto de antes a vida do trio, escolheram o Rock in Rio para estréia nacional de sua tour SÁ, RODRIX, GUARABYRA – REENCONTRO: 30 ANOS DE ROCK RURAL, na qual acompanhados por uma banda, não só revivem os grandes sucessos juntos e separados, como também mostram em primeira mão para o público a nova safra de canções que tem produzido e que estão no CD que lançam simultaneamente com a tour.

A primeira dessas canções não por acaso, chama-se OUTRA VEZ NA ESTRADA e lista, com muita propriedade a poesia, as razões e motivos que reúnem depois de 30 anos esses amigos de longa data. E surgiram na seqüência AQUI SE FAZ, AQUI SE PAGA, um levantamento bem humorado das vicissitudes do homem contemporâneo;
JESUS NUMA MOTO, um tenso e emocional rock-balada , que fala dos desejos ocultos em todos nós; e NO TEMPO DE NOSSOS SONHOS (NOVA ERA), um animado rock sobre os amores do passado que insistem em bater à nossa porta.

É como se o tempo tivesse parado e o passado ao mesmo tempo: e os filhos de seus seguidores vão, enfim, poder saber ao vivo o que é aquilo que seus pais de vez em quando colocam para tocar na sua velha vitrola de vinil. 


 Links: 


1972 - Passado, Presente, Futuro
1973 - Terra
2002 - Outra Vez Na Estrada

Moto Perpétuo

O Rock Progressivo Brasileiro apesar das inúmeras dificuldades, deixou marcas que hoje são resgatadas graças as novas gerações ávidas por conhecer um período onde se fazia musica apenas pelo prazer, amor e pela arte em si, ao invés do atual conceito de marketing financeiro que hoje paira na industria musical. É curioso para os novos ouvidos saber que muitos dos “medalhões” da MPB atual como Ney Matogrosso (Secos e Molhados), Rita Lee (Mutantes), Lulu Santos e Lobão (Vimana), Jaques Morelenbaum (Barca do Sol) , Flavio Venturini e Vinicius Cantuaria (Terço) curiosamente nos anos 70 em suas respectivas bandas, mesclavam influencias diversificadas em seus trabalhos com arranjos psicodélicos que eram claramente influenciados por discos que vinham com meses de atraso dos EUA e Europa, era o gênero chamado de rock progressivo fazendo a cabeça dos novos músicos que naqueles anos se iniciavam.

Com outra figura da musica popular brasileira, a história não seria diferente. Guilherme Arantes muito antes de fazer sucesso comercial nos anos 80, se beneficiando principalmente, com o fato de que suas musicas, era sempre incluídas em novelas da TV, por mais estranho que seja, também flertou com o gênero progressivo.

Guilherme foi um adolescente privilegiado, já que tinha um tio que trabalhava na TV Record e com isso ele pode assistir ao vivo boa parte daqueles grandes festivais da MPB em São Paulo, que levantava o publico com suas disputas musicais, como Caetano Veloso, Mutantes, Chico Buarque entre outros. Teve aulas de piano e montou conjuntos sem grande destaque no final dos anos 60 e inicio dos 70 que tocavam basicamente musicas da Jovem-guarda e dos Beatles. O primeiro deles foi o que montou com colegas de escola, chamada “Polissantes”, este que tinha entre seus integrantes o ator Kadu Moliterno. Mais tarde, acabou conhecendo varias pessoas no meio musical, e dessa maneira, por ter certa habilidade com o piano, foi convidado a tocar na banda de Jorge Mautner, e fez diversas apresentações com o mesmo, mas sabia que não era por muito tempo, então, optou por fazer Faculdade de Arquitetura, depois acabou não indo bem nos estudos, e entre conversa e outra com colegas, do tipo “quem toca o que”, acabou conhecendo Claudio Lucci, um excelente violonista, e com ele logo foi procurar um velho amigo, Diógenes, que Guilherme até hoje considera o melhor baterista que viu tocar em toda sua vida, e ainda Gerson Tatini, baixo, e Egydio Conde, guitarrista, convidados a entrar logo depois. Estes dois exitaram entrar no começo, pois não estavam muito disposto a acompanhar nenhum cantor. Alguem teria comentado com eles, "Tem um cara que tem umas musicas ". Mas teriam mudado de idéia depois que ficaram sabendo que a intenção era a gravação de um disco.

E assim, no começo de 1974, em São Paulo, estava formado a banda Moto Perpétuo, nome do um clássico composto por Nicolo Paganini, e que fazia jus a ponte do rock progressivo (estilo que era uma novidade, e que os estudantes ouviam muito na época) com a MPB, principalmente mineira, influência do Clube da Esquina.

Na época os Secos e Molhados era a banda da vez, mesmo com a saída de Ney, a mídia e o publico os idolatravam, e Guilherme, sempre com bons contatos, procurou Moracy do Val, que administrava os Secos na época para fazer a direção de produção da banda. Eles ficavam horas a fio numa casa no bairro do Brás, fazendo verdadeiras maratonas diárias de ensaios. Eram brigas constantes de idéias e discurssões para prevalecer um arranjo definido para cada canção.

Os integrantes da banda nesse meio tempo brigavam com Guilherme inconformados dele marcar, precipitadamente, horas num estúdio para fazer a gravação do disco que tinha condições simples. O que na verdade eles não queriam era gravar o disco num estúdio com poucos canais , já que eles sabiam que bandas como o Yes gravavam em condições muito superiores. Principalmente Gerson que chegou a perguntar para Guilherme, se ele não ouvia discos pro acaso. Mas mesmo com desentendimentos com Gerson e Egídio, que eram os mais radicais fãs de progressivo da banda, enquanto Guilherme tinha aptidões mas para a MPB do Clube da Esquina e Elton John, a banda registrou seu único disco, entre setembro e outubro de 1974, com o produtor renomado, Peninha Smith, fazendo milagres no estúdio Sonima, em apenas 8 canais. O disco em stereo lançado com uma boa arte de capa, saiu pelo selo Continental, e destaca arranjos muito arrojados em comparação ao que existia no Brasil na época.


Link:

1974 - Moto Perpétuo

domingo, 3 de outubro de 2010

Recordando o Vale das Maçãs

Recordando o Vale das MaçãsEsta é mais uma magnífica banda de progressivo nacional surgida na década se setenta. No início eu tinha um baita preconceito com a banda, achei meio caipira (devido a letras como "cantando pro nenê nanar). Um tempo depois resolvi ouvir novamente e parece que ficha caiu: hoje conseidero uma das melhores bandas prog brasileiras. 

"Em 1973, três jovens rapazes (Fernando Pacheco, Fernando Motta e Domingos Mariotti) decidiram deixar Santos - cidade do estado de São Paulo -, pegar e estrada e morar num rancho em Ouro Fino, Minas Gerais, visando um contato mais íntimo com as energias da natureza. Tal contato despertou a sensibilidade deles que estava suprimida pelo ambiente da cidade, e, lentamente, começaram a ver o mundo de um ponto de vista diferente.
Como músicos, eles aproveitaram de suas experiências e canalizaram aquelas energias para composições musicais. Eles ficaram no rancho por mais de um ano.

Quando voltaram a Santos, ficaram chocados pelo forte contraste de ambientes entre o lugar em que eles viveram e onde estavam agora. Mais do que nunca, o sentimento de harmonia tornou-se mais forte e eles decidiram repassá-lo para as pessoas através da música, passar o equilíbrio que a natureza fornecera a eles.
Ao passar do tempo, outros músicos começaram a ser atraídos pela música da natureza e se identificaram com tal trabalho musical. Os primeiros convites para shows começaram a aparecer, assim como a necessidade de um nome para identificar a banda tornou-se necessário. A idéia veio do título de uma das canções do grupo, que se chamaria então Recordando o Vale das Maçãs em julho de 74, faria o primeiro show em Ouro Fino em 3 de Agosto de 74 no Clube Montanha.

A formação inicial tinha Pacheco (guitarra acústica e elétrica), Motta (violão e percussão), Luiz (violino), Lee (teclados e voz), Moa (flauta e vocal) e Paulinho (vocal).

Em uma das apresentações, o grupo conheceu outro compositor que também se dedicava a transmitir suas experiências com a natureza através da música: Milton Bernardes. Como o grupo ainda não tinha achado bateirista com tempo e variações de ritmo que serviam à música, Milton propôs que ele ficasse com o posto. Foi uma união perfeita, de idéias e sentimentos, o grupo então se fortificou.

Ainda havia um elemento faltando, que poderia fazer a fusão entre as parte harmônicas e rítmicas. Então Gui, um baixista, imediatamente se identificou com a proposta do grupo. Era a gota que faltava nesta alquimica musical e então o Recordando o Vale das Maçãs (RVM) decolou.

Entre os anos de 74 e 82, o RVM encontrou um modo de ampliar todas as estruturas musicais predominantes naquele tempo, com um trabalho rico e elaborado, que sobreviveu graças a dedicação dos músicos. As produções dos shows eram feitas pelo próprio conjunto, já que seu som era considerado o principal para aquele tempo e não contava com o apoio da mídia. Apesar de todos os obstáculos, o grupo obteve sucesso e conquistou um número considerável de fãs que lotavam seus shows.

Em 77, após terem ganho o Festival de Música de Santos, o grupo foi contratado pelo selo GTA (Grupo Tupi Associado), pertencente a rede Tupi de televisão, para gravar seu primeiro LP. O trabalho foi divulgado pelo grupo, através do disco em vários locais, do Brasil aos EUA, Japão, Europa e América do Sul.

Com a explosão da Dance Music, houve mudança de foco pela mídia, no qual grandes grupos com ELP, Yes e Genesis perderam mercado. RVM, que tentava seguir um mesmo tipo de trabalho daqueles grupos, foi forçado a interromper as atividades por um tempo.

Entretanto, como tudo o que é feito com dedicação e amor nasce novamente e frutifica, o RVM retornou ao trabalho de publicar música de grande impacto emocional. Agora o grupo é composto por Milton (bateria), Lee (teclados e violino), Pacheco (guitarra e violão), Gui (baixo), Motta (violão e percussão) e Domingos (flauta de digital horn). 



Link:
1977 - As Criancas da Nova Floresta

Som Três

Pra quem não conhece, vale a pena pesquisar... uma das primeiras formações de César Camargo Mariano... Banda surgida aproximadamente em 1966... Serviram de base para muitos cantores bons como Wilson Simonal, Chico Buarque, MPB-4 e em 1970, após a copa do México a banda iria se desfazer porque César Camargo Mariano fora convidado a participar da banda de Elis Regina.
A formação básica da banda era:


César Camargo Mariano - Pianos
Sebastião Oliveira da Paz, o grande Sabá - Contrabaixo
Toninho Pinheiro - Voz e Bateria

Com participações especiais de Chiquito Braga na Guitarra, Luiz Cláudio Ramos, também na guitarra, Maurílio da Silva Santos no Trompete, Gelson Cortez nos vocais.
 

Link:
1968 - Som Três Show
1969 - Som Três Um é Pouco, Dois é Bom, êste Som Três é Demais
1970 - Som Três Tobogã

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Módulo 1000

A trajetória do grupo se inicia em meados da década de 60, de forma não muito diferente da de tantos outros: garotos da zona sul carioca, amigos de colégio, com muita disposição e praticamente nenhum dinheiro no bolso. Após diversas experiências mal-sucedidas, Daniel C. Romani (guitarra) e Eduardo Leal (baixo) montaram o conjunto Código 20, já percorrendo, no final de 1968, o tradicional circuito de bailes dos clubes do Rio de Janeiro. Amigos de infância, há anos tocavam juntos, com várias formações e nomes: Os Quem, Brazilian Monkes (sic), Os Escorpiões, etc. “O Daniel disse que estava montando um conjunto com o Armando (bateria) e que estava precisando de um guitarrista base”, conta Eduardo. Autodidatas, vivendo a onda dos Beatles e dos Rolling Stones, eles economizavam até o último tostão para conseguirem alguns instrumentos. Recolhiam ferro-velho, fabricavam guitarras (ou algo vagamente similar, que acabava ganhando esse nome, na falta de outro melhor...) para vender, e tocavam de graça, porque, como defendia o Armando, “tocar era o grande lance”. Os resultados vinham chegando devagar, como atesta Daniel: “Era Armando na bateria, eu tocando solo, o Alemão na guitarra base, e o Eduardo já tocando baixo. Embora a gente não fosse grande coisa, não éramos fracos, chegamos a tocar nos melhores lugares por aqui em termos de baile. O grande lance dessa época era você tocar no Fluminense, Botafogo, em grandes domingueiras onde também tocavam uns grupos como Os Selvagens, por exemplo, que se jogavam no chão, pulavam nas mesas, as calças saint-tropez caíam, era uma loucura...”. Nessa altura dos acontecimentos, enquanto a trajetória da banda ia evoluindo a pequenos passos, surge em cena um novo integrante, que daria uma grande guinada profissional no jovem conjunto, abrindo diversas portas e tornando possível tudo o que aconteceu depois.

Paulo Cezar Willcox era um jazzista por excelência, e um grande vibrafonista, mas parecia ter chegado um pouco tarde à cena musical brasileira. Depois do boom de bossa-nova instrumental de meados da década de 60, esse som já estava começando a ficar por demais saturado, e ele resolveu tentar a sorte no crescente e promissor mercado do rock’n’roll. Juntou-se ao Código 20 pouco antes de um concurso de bandas amadoras da TV Globo, que oferecia como prêmio quatro apresentações no programa do Paulo Silvino, além de toda uma nova aparelhagem e instrumentos musicais, coisa que o grupo precisava urgentemente. Integrado ao conjunto, “Zé Bola”, como era chamado, logo se colocou em posição de destaque, introduzindo grandes doses de profissionalismo e planejando a performance do grupo na grande final. Devidamente caracterizados de terninhos, para horror da maioria dos rapazes (que não usavam paletó nem em casamentos), eles apresentariam “There’s a Kind of Rush” dos Herman’s Hermits, seguido de “Tequila”, aquele clássico instrumental cucaracha dos Champs, que tinha o título cantado em uníssono ao fim de cada frase. Na apresentação final, no programa do Chacrinha, Willcox tocou o vibrafone de maneira feroz, saiu em seguida do palco e voltou empurrando dois enormes tímpanos de orquestra, atacando-os em duelo furioso com a bateria. Isso causou um grande furor no público e nos jurados, e fez o grupo afinal levar o primeiro prêmio dentre, literalmente, milhares de jovens bandas concorrentes.

Logo após a entrada de Willcox, o baterista Candinho (Cândido Souza Farias), já com alguma experiência e também versado no idioma do jazz, também havia se juntado à banda. “Na realidade, o Willcox e o Candinho na época entraram praticamente juntos”, recorda Daniel. “O Willcox chegou pra mim e falou que com o Armando não dava, não tinha jeito. Eu argumentei que montei tudo com ele, desde o começo, mas ele insistia em trazer o Candinho. O Armando ficou muito aborrecido, mas o Willcox tinha conhecimentos, ia abrir algumas portas para a gente. Na realidade eles não entraram só porque nós éramos bacanas... No fundo eles viam a banda mais como uma oportunidade de faturar um troco. Nós éramos músicos tecnicamente e teoricamente mais fracos frente ao nível deles, então tínhamos que ralar muito para conseguir acompanhá-los”. E essa foi a época em que todos começaram a deixar o amadorismo para trás e a efetivamente amadurecer como músicos.

No começo de 1969, o conjunto conseguiu um contrato na boate Catraka de São Paulo. Egresso da bossa nova (mais especificamente do grupo Agora-4), o tecladista Luiz Paulo Simas se juntou à banda nessa ocasião: “O grupo precisava de um organista para cumprir um contrato longo numa boate em São Paulo. Me contrataram, pois eu tinha um órgão Eletrocord, e eu larguei o segundo ano da faculdade de arquitetura no Fundão (N.R.: UFRJ) para ir com eles para São Paulo. Era um bom salário, e uma boa desculpa para largar a faculdade”. Assim, com Willcox no vibrafone, Daniel na guitarra, Luiz Paulo Simas no órgão, Eduardo no baixo e Candinho na bateria, surgiu a primeira formação do Módulo 1000, nome inspirado pelos módulos lunares americanos e soviéticos, muito em voga naquela época de corrida espacial.

Na temporada na Catraka, o Módulo 1000 tocava o repertório de clássicos da época, como Beatles, Stones, Hair e Hendrix. Mirna, irmã de Daniel, participou por um tempo, adicionando uma voz feminina, mais comercial e acessível, ao gosto de Willcox. Entretanto, os objetivos dele e do resto do grupo estavam começando a se distanciar. “A Catraka era uma casa muito grande, e a gente morava no andar superior; só dormia, ensaiava e tocava o dia inteiro. Foi aí, nesses ensaios, que a gente começou o nosso complô”, lembra Daniel. “O Willcox percebia que nessas horas extras fora do trabalho, nós quatro fazíamos um esquema paralelo de jam sessions para anotar algumas coisas, gravar outras. Ele notava que a gente estava sempre querendo dar uma guinada para esse lado, mas não houve uma briga, nós nunca discutimos. Ele mesmo foi percebendo que aquele som não abrigava mais o vibrafone ou a contrariedade dele... A gente queria sair daquele esquema de show-baile, queria fazer uma banda de rock progressivo, isso nunca saiu da nossa cabeça”. Antes de se despedir do grupo, Willcox ainda deu uma mão no V Festival de MPB da Record, em novembro de 1969. Para se vingar dos odiados ternos impostos em “Tequila” no ano anterior, um figurino “tropicalista” típico – totalmente esculachado – foi escolhido a dedo para o desconforto de Willcox.

“O Módulo 1000 foi aquela banda que falou: ‘não quero tocar mais nada de ninguém’”, afirma Daniel. Os quatro músicos começaram 1970 dispostos a tudo. Não que não houvesse exceções – dentro de um certo contexto, poderia ainda rolar algo como “Communication Breakdown” (do Led Zeppelin) ou “Sweet Leaf” (do Black Sabbath), por exemplo – mas a meta agora era vencer nos próprios termos, definitivamente. Permanecendo mais tempo em São Paulo, onde o circuito de shows oferecia mais oportunidades, os espaços foram sendo pacientemente conquistados. Os shows-baile de quatro horas foram reduzidos para quarenta minutos. “Conseguimos um contrato para tocar em Praia Grande, no Clube Siri. Tocávamos para dançar no clube todas as noites – sete vezes por semana! – para um salão sempre lotado de jovens que nos adoravam. Quando chegava a época de temporada só dava a gente no clube”, relembram Eduardo e Luiz Paulo, sobre o clube onde ainda iriam se apresentar por mais dois anos. Daniel também tem boas recordações desse período: “O Módulo 1000 já tinha uma aceitação; não era um som de parada de sucesso, mas o pessoal vinha ver. As pessoas gravavam, pediam, conheciam já as músicas pelo nome, até cantavam junto em latim! Todo lugar que a gente ia, havia comitivas de carro acompanhando a gente”.

As convicções podiam ser fortes quanto ao direcionamento musical, mas a meta também era gravar, afinal de contas. Através de um contato com a dupla de compositores Sérgio Fayne e Vítor Martins (posteriormente parceiro de Ivan Lins), o grupo conseguiu uma audição na Odeon, que estava abrindo espaço em seu cast para grupos alternativos. Seguindo o conselho da dupla, o conjunto apresentou um material bem mais acessível, com influências de MPB e sonoridades mais leves, o que deu resultado, agradando aos produtores. Seis faixas foram lançadas ao todo pela Odeon. Apesar de reconhecer que o esforço era legítimo para chegarem a um LP exclusivo pela gravadora, Daniel não guarda muita afeição por essas faixas: “Nós fizemos todas essas músicas, que eu não gostava na época e continuo não gostando, não refletiam o nosso som. Naquela época a gente não fazia nada daquilo. Mas os caras (Odeon) acharam interessantes as faixas anteriores, e aí já dava para fazer uma coisa diferente, que já me agradou mais, era o som que eu estava a fim de fazer. Compus algo numa veia mais Led Zeppelin, naquele balanço. Eu pedia ao Candinho: ‘Eu quero esta batida tipo John Bonham’, no que ele respondia: ‘Foda-se, vou fazer a minha’. A gente brigava muito, eu dizia que tinha que ser mais rock, ele dizia que ia dar um rufo de jazz, e aí ficava totalmente diferente...”. A composição em questão se chamava “Ferrugem e Fuligem”, e foi lançada na ótima compilação “Posições” da Odeon, junto com a faixa “Curtíssima” (que era realmente muito curta...). Junto ao Módulo 1000 dividindo o LP, havia um time de respeito, contando com os grupos Som Imaginário, Tribo e Equipe Mercado. Destes, apenas o Som Imaginário conseguiria efetivamente lançar LPs (três) pela gravadora.

O período na Odeon também possibilitou a participação no V Festival Internacional da Canção, em outubro de 1970. Eles defenderam a música “Cafusa” (de Fayne e Martins) na fase nacional, onde também participava O Terço com seu “Tributo ao Sorriso” (classificada em nono lugar). Eduardo lembra da importância do evento: “Conseguimos um contrato com a Odeon e de lá fomos classificados para a final do FIC, que ia acontecer no Maracanãzinho. Foi quando voltamos para o Rio com outro status, mais perto dos deuses. Foi nesta volta que começamos a compor de fato”. Ensaiando 8 horas por dia, sete dias por semana, antes do final do ano o Módulo 1000 já tocava todas as faixas que comporiam seu futuro LP de estréia. Basicamente o material era de Daniel e Luiz Paulo, com Eduardo e Candinho participando dos arranjos. Por causa da letra em latim de “Turpe Est Sine Crine Caput”, em um show em Juiz de Fora os federais do DOPS subiram no palco, desligaram tudo, e convocaram os músicos para explicar a “terrível letra cifrada e subversiva”. Na realidade se tratava apenas de “É um fato, é um fato, é horrível uma cabeça sem cabelos...”.

De novo baseado no Rio, o grupo trabalhava com o empresário Marinaldo Guimarães, um personagem típico da época, preocupado sempre em fazer o público pensar. O espetáculo “Aberto para Obras” pode ter representado o auge de suas proposições estéticas. Montado no Teatro de Arena do Largo da Carioca, o público entrava por estreitos corredores e se via separado dos palcos por cercas de arame farpado. Descobrindo finalmente como chegar a seus lugares, tinham que escolher entre olhar para baixo, onde estava o Módulo 1000, ou para cima, onde se encontrava O Terço. Abaixo havia também uma mulher preparando pipoca em um fogão e mais adiante, sentado em um vaso sanitário, o irmão de Jorge Amiden (d’O Terço) empunhando estático um violão por três horas seguidas, apenas para arrebentá-lo no final de tudo. No meio da platéia, diversos pintores, entre eles Wander Borges, que faria a capa do LP da banda. “Entre os shows que fizemos no Rio”, recorda Luiz Paulo, “me lembro bem do Teatro da Praia, com o ‘leão da Metro’ projetado nas cortinas antes de se abrirem, manequins espalhados pela platéia e eu estreando com o primeiro sintetizador no Rio (talvez no Brasil?) – meu Synthi A da fábrica EMS inglesa. O nosso empresário era muito chegado a ‘happenings’, avant-garde e afins, e sempre nos dava força quando a coisa ia para esse lado”. O grupo também experimentava na busca de novos sons, criando o “mandum”, sua versão da talk-box (voice bag).

Foi nesse momento que apareceu o convite de Ademir Lemos para a gravação de um LP pela Top Tape, em 1971. O grande problema era que o estúdio só estaria disponível se o registro fosse feito imediatamente, e o grupo estava em um momento de transição entre o material do ano anterior e uma nova fase do repertório. Todavia, o novo material não estava ainda suficientemente polido, enquanto que aquelas músicas de 1970 já estavam mais que acertadas. Para não deixar a oportunidade escapar, a solução foi gravar aquele repertório que já se encontrava bastante defasado, e nem era mais tocado ao vivo.

No modesto estúdio da Musidisc os técnicos de som não viam com bons olhos as experimentações do conjunto. As caixas Leslie do órgão, os ecos, a colocação do amplificador no banheiro (onde mais conseguir aquela sonoridade? Até o Deep Purple fazia essas coisas...), guitarras gravadas ao contrário, tudo era uma dor-de-cabeça para Valter, o técnico chefe. O estúdio ficava à disposição do grupo, e apesar dos técnicos, desacostumados com aquela loucura toda, acharem os resultados horríveis e “sujos”, a cervejinha sempre acabava distraindo suas atenções, e o disco foi assim finalizado. A caríssima capa tripla, com ilustrações psicodélicas de Wander Borges, parece ter sido inspirada na faixa de Daniel que dava nome ao disco: “As paredes eram os obstáculos que as pessoas tinham para emitir seu ponto-de-vista político, sexual, de gostos. As paredes sempre existiram dentro da nossa própria casa... Eu não era um cara político mas na época os caras sempre enchiam o teu saco”. O jornal Rolling Stone, em sua edição nacional de número 4 (de 21 de janeiro de 1972) trazia um anúncio de página inteira: “Nosso som é o som do mundo, para ser sacado e curtido” – Módulo 1000, com a foto do quarteto e a capa do disco, trazendo apenas o nome da banda, do disco e do produtor Ademir.

O resultado final dessas conturbadas sessões, o LP “Não Fale Com Paredes”, não teve, como já seria de se imaginar, uma recepção das mais calorosas. Nessa altura dos acontecimentos, Zezinho, o diretor da gravadora carioca Top Tape, já estava de certa forma arrependido de ter dado carta branca a Ademir Lemos – também conhecido nos bailes como DJ Ademir – então em alta na Top Tape (com o sucesso dos seus LPs de discotecagem “da pesada”). Na ocasião em que foi aberta a brecha para o Ademir produzir alguns discos, o disc jóquei logo lembrara dos amigos do Módulo 1000, que já tinham feito vários bailes com ele. Ele indicou a banda, se responsabilizou pela sua qualidade e produziu ele mesmo o LP. Quando Zezinho finalmente ouviu o trabalho, o LP já estava prensado e pronto para ir para as lojas. Ele sabia que rock brasileiro já não dava muito dinheiro, ainda mais... Aquilo!

Os quatro músicos do Módulo 1000 tinham tido muita sorte de ter conseguido em pleno 1971 – mesmo que numa gravadora pequena – aquela produção toda para um LP. Ainda que o estúdio da Musidisc fosse modesto e os técnicos de som despreparados para todas aquelas novidades, Ademir tinha dado total liberdade para eles gravarem o que quisessem. Quando foram afinal conversar com o diretor, já sabiam de antemão que ele estava irritadíssimo com o disco. Chegando a seu escritório, ele foi direto ao assunto: “Esse disco é uma merda!”. O que ele não esperava era a resposta do Daniel: “Então você vai ter que comer esta merda toda, porque você foi um cara omisso, não apareceu nas gravações para ver que banda era essa que você estava bancando, então vai se foder”. Isso não ajudou realmente a situação do grupo na gravadora, mas de qualquer forma o disco acabou indo para as lojas. Afinal de contas, o pessoal sabia que seria virtualmente impossível outra gravadora aceitar aquilo que eles faziam, sem nenhuma restrição.

Analisando-se o contexto musical da época sob perspectiva, o diretor da Top Tape tinha lá suas razões para não ter gostado do trabalho. Comercialmente falando, o disco era um suicídio. Se nem mesmo a exposição semanal no programa “Som Livre Exportação” da TV Globo garantia muito retorno aos Mutantes e O Terço, conjuntos de ponta da época, o que esperar então da hard psicodelia “pauleira” do Módulo 1000, influenciado por Black Sabbath e Led Zeppelin, e ainda por cima com letras em latim??? Esse som praticamente inexistia no país. O pouquíssimo espaço que se dava ao rock era para as bandas estrangeiras, e era um sacrifício tomar conhecimento de shows e lançamentos de rock nacional, apesar da boa vontade da Rolling Stone brasileira (de curta vida nesses solos áridos). Desde os anos sessenta, a sobrevivência estava em tocar material alheio em bailes, ou conseguir trabalho com algum artista de sucesso, como A Bolha (companheiros de Top Tape e “concorrentes” diretos do Módulo 1000, pois seus empresários não se bicavam muito...) viria a fazer mais tarde, tocando com Erasmo Carlos.

O desentendimento com a direção da gravadora não impediu, contudo, que o grupo lançasse outro compacto pela Top Tape. Naquela década, uma grande fonte de renda desses selos eram os artistas brasileiros, sob pseudônimos e gravando em inglês (os Mark Davies da vida...). Daniel lembra com dificuldade dos detalhes: “Alguém chegou e falou que tinha tantas horas de estúdio, se a gente não queria fazer alguma coisa com um nome diferente, tipo Love Machine. A nossa reação não foi eufórica, principalmente porque a remuneração não era nada de fantástico. Talvez a gente tenha feito isso porque o Ademir era nosso amigo, arrumou um disco pra gente, e o Zezinho talvez ficasse mais feliz se a gente gravasse umas músicas bacanas em inglês. O lado A, ‘Cancer Stick’, era quase um rap, eu falando com voz encorpada sobre os malefícios do cigarro, e o Ademir tossindo ao fundo. ‘Waitin’ For Tomorrow’ foi composta na véspera e rapidamente finalizada no estúdio”.

Sobre o trabalho do grupo ainda em 1972, prossegue Daniel: “Na verdade, o novo material era completamente diferente do LP, tinha uma preocupação de não se repetir. Tinha ‘Lages Cadaverinas’, ‘Sete Quartos’ (uma música, adivinhem só, em andamento 7/4!), ‘Licor de Rabanete’, ‘Olhar Estéril’, ‘Nua’. A gente explorava mais os compassos quebrados, fazendo um diálogo maior de riffs que não existia antes. Além da guitarra, já havia um sintetizador, e um órgão Farfisa. Sonoramente o conceito mudou, mudamos todo o estilo – tinha muita coisa aleatória e muita coisa marcada, com um punch que faltava antes. Já fazíamos até a utilização de cavaquinho e bandolim, num contexto bem diferente”. Essa nova fase também foi marcante para Eduardo: “Estávamos começando um show no Teatro da Praia, em Copacabana, quando arrebentou minha corda bordão do contrabaixo. Tentei emendar, tentei tocar sem usar o bordão, não consegui. O Candinho me falou: ‘Cara, acho que você precisa de um choque para ver se muda’. Ele tinha toda a razão! A partir daí comecei a compor igual a um doido. Essa nova fase do Módulo 1000, que não ficou registrada, foi muito importante para mim, pois fiquei seguro da minha capacidade e criatividade. Se não me engano, o Daniel ou o Luiz Paulo, um dos dois fez um comentário, logo depois de um show, de que a melhor música do Módulo dessa fase havia sido criada por mim!”.

Apesar da falta de perspectivas de um segundo disco, diversos shows e eventos ainda impulsionavam a banda. Em 1972 foram convidados pelo Governo para reinaugurar a concha acústica de Brasília. Com nada menos que 46 caixas de som conectadas ao PA, dava pra se ouvir o estrondo a 3km de distância. No ano seguinte o grupo participaria do terceiro festival ao ar livre do Brasil, o “Transa-Som-Folk-Rock-Pop no Sertão”, no Vale do Jequitinhonha, ao lado de DJ Ademir, Rui Maurity, Jorge Mello e Serguei. “Um acontecimento absolutamente surrealista, num lugar absolutamente surrealista também”, nas palavras de Luiz Paulo, “Tudo armado pelo filho de um fazendeiro da região. A população local nunca tinha visto cabeludos, nunca tinha ouvido rock. Foi um susto!”.

Em meados de 73, a história do Módulo 1000 chega a seu capítulo final. “Acho que foi por falta de perspectivas e de dinheiro. Ninguém brigou, realmente”, ressalva Luiz Paulo. Aquele mesmo ano ficaria marcado como o início de uma espécie de boom no rock brasileiro. Gradualmente, foi se tornando (relativamente) mais fácil lançar e divulgar um disco. A recém-lançada revista Pop já ocupava o lugar da finada Rolling Stone, e, no Rio de Janeiro, entrava no ar a histórica rádio Eldopop FM, que mudaria diversos conceitos e implementaria novos padrões musicais na cabeça de muita gente. Apesar disso, todos aqueles anos de luta tinham desgastado bastante o grupo. Nas palavras de Daniel: “A expectativa era lançar um segundo disco, mas o clima já não era o mesmo. A última coisa que eu me lembro dos últimos dias da banda foi após um festival de inverno em Juiz de Fora. A gente veio conversando, eu e o Luiz Paulo, das razões pessoais que nos levaram a um certo desgaste. Marcamos uma reunião, se não me engano no Alto da Boa Vista, e concordamos que a banda deveria realmente acabar. Cada um ia seguir o seu caminho... O Luiz Paulo, por exemplo, já estava entrando em contato com o Lulu Santos, do Veludo Elétrico, para montar outra banda”.

E foi o que realmente veio a acontecer. Depois do final do Módulo 1000, Luiz Paulo e Candinho se juntaram a Fernando Gama (baixo), ex-Veludo Elétrico, e formaram o mitológico Vímana. Pouco depois Lulu Santos (guitarra) completou a formação que participou dos festivais Banana Progressiva e Hollywood Rock, em 1975. Quando o grupo lançou em 1977 um compacto pela Som Livre, “Zebra”, Candinho já havia sido substituído por Lobão, e Ritchie Court havia assumido a flauta e vocais. Esse foi o único trabalho da banda publicado (de fato, um LP inteiro foi efetivamente registrado, para jamais chegar a ser lançado). O Vímana acabaria por se separar no ano seguinte, com seus meses finais sendo dedicados a uma parceria com o tecladista Patrick Moraz (N.E.: ex-Yes) que acabou não se concretizando, restando apenas algumas poucas faixas gravadas em estúdio e abandonadas. Tempos depois, Ritchie ainda proporia uma parceria a Daniel, mostrando-lhe seu novo trabalho, bem mais direto e focado para o mercado. Entretanto, apesar de todo o óbvio potencial comercial daquelas canções, “Menina Veneno” estava um pouco distante demais dos objetivos de Daniel... Luiz Paulo, por sua vez, passou a criar trilhas e jingles para filmes e TV (curiosamente, ele é o criador do famoso “plim-plim” da Globo), participando também de turnês e gravações de vários artistas. Em uma única ocasião se reuniu novamente a Daniel e Candinho, em um dos seis dias de show no Planetário carioca. Entre outros convidados, participaram também do evento Sérgio Dias, Cláudio Nucci, Marçalzinho e Liminha. Em 1989 mudou-se definitivamente para Nova York, onde, fiel às suas raízes musicais, se dedicou aos ritmos brasileiros, já tendo lançado alguns CDs. Em 2007 lançou nos EUA e no Brasil o CD “Cafuné”. Seu trabalho atual pode ser conferido em seu site, http://www.luizsimas.com. Candinho, possivelmente inspirado por Luiz Paulo, também migrou para os Estados Unidos, e no momento reside na Flórida, trabalhando com artesanato e ainda tocando bateria. Eduardo se mudou para Brasília e atualmente dedica parte de seu tempo à atividade de músico (agora nos teclados) e compositor, tendo dois CDs na linha new age já lançados, além de composições próprias gravadas por artistas da cena local. No momento desenvolve seu novo trabalho, chamado “Ópera Leiga do Cerrado”. Daniel acabou se voltando para o trabalho de músico de estúdio, dedicando-se também a dar aulas de guitarra e consultorias sobre o instrumento. Há mais de dez anos trabalha continuamente no projeto “Four Walls”, que reflete seu desenvolvimento como músico nas últimas três décadas, bem como seu interesse pela música progressiva e étnica. Por fim, Paulo César Willcox, após deixar o grupo, trabalhou como músico de estúdio e arranjador durante o restante dos anos setenta, muito respeitado entre seus pares, vindo a falecer de um ataque cardíaco ao final daquela década.

Nos dias de hoje, para a surpresa dos próprios músicos, que consideravam o disco praticamente enterrado, “Não Fale Com Paredes” continua despertando interesse de colecionadores e fãs do mundo todo. Diversas páginas na Internet colecionam apreciações apaixonadas sobre a banda, sempre elevando o álbum à categoria de “obra-prima” do hard-prog-psych brasileiro. Recentes reedições em CD e em LP (nem sempre oficiais, mas com razoável qualidade de gravação e apresentação, reproduzindo fielmente todo o trabalho gráfico e a capa tripla, como a edição em vinil e CD do selo alemão “World in Sound”) tornaram o trabalho do Módulo 1000 novamente acessível em maior escala. Edições originais do LP, entretanto, continuam sendo avidamente cobiçadas em todo o mundo. Distribuídas em catálogos de revendedores especializados e em sites de leilões virtuais, atingem facilmente o preço de algumas centenas de dólares. Todos esses fatores reunidos ajudam a manter brilhante ainda hoje a aura do Módulo 1000, que mesmo não tendo sido responsável pela criação de nenhum estilo musical propriamente dito, foi um dos honrosos pioneiros na introdução do rock progressivo em terras brasileiras. Ipso facto!


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1970 - Não Fale com Paredes